segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Inovação Tecnológica, Audácia e o Genoma de Empreendedor

Inovação Tecnológica, Audácia e o Genoma de Empreendedor

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22 de fevereiro de 2010 - A combinação de empreendedorismo e inovação tecnológica tem servido de combustível para uma fabulosa geração de riqueza e uma elevação do padrão de vida em todo o mundo, mais especificamente no seu epicentro: o Vale do Silício. Na verdade, o Vale do Silício é o maior e mais influente centro de alta-tecnologia no mundo e lidera todas as regiões metropolitanas nos Estados Unidos na amplitude e no escopo da atividade econômica que ele cria através da inovação tecnológica.

Desde os anos 1960’s, quando as empresas de tecnologia que estavam engajadas na fabricação de semicondutores, no projeto de computadores, e em produção de software e serviços, começaram a se agrupar simbioticamente na parte sul da Área da Baía de São Francisco, o Vale do Silício tem se tornado o cluster industrial de alta-tecnologia mais produtivo do mundo. A rede de pessoas, firmas, universidades e instituições de pesquisa, e agências governamentais tem propiciado um habitat ideal para empresas de alta-tecnologia nascerem e crescerem. Além do mais, os produtos dessas firmas de alta-tecnologia têm aperfeiçoado processos e modelos de negócio, gerado crescimento econômico, e contribuído decisivamente para elevar os padrões de vida em todo o mundo.

O Vale do Silício também continua a estar na ponta da inovação. De acordo com o U.S. Patent and Trademark Office (USPTO), em 2008, 11 das 20 cidades dos EUA com o maior número de patentes registradas estavam no Vale do Silício. Cidadãos do Vale do Silício receberam 13.231 (ou 7,9%, do total de 167.350) patentes de “utilidade” concedidas nos EUA em 2009, segundo a IFI Patent Intelligence, uma unidade da Wolters Kluwer Health que analisa dados sobre patentes do USPTO. (Patentes de utilidade são tipicamente concedidas a aqueles que inventam ou descobrem um novo processo ou máquina “útil”.) A produção de patentes do Vale do Silício foi particularmente forte quando comparada com outras áreas dos EUA, deixando para trás Nova Iorque (onde está o cluster de tecnologia conhecido como “Silicon Alley”) com 5,3%, o Texas com 3,5%, e Massachussetts (onde estão MIT e Harvard) com 2%.

Em comunicado conjunto da National Venture Capital Association (NVCA) e da StartUpHire (portal de empregos dedicado a postos de trabalho em startup’s) publicado em Novembro de 2009, foi revelado que 24.344 vagas listadas no portal foram preenchidas desde Janeiro de 2009. Combinadas com as 11.000 vagas listadas naquela ocasião, empresas startup’s criaram mais de 35.000 postos de trabalho nos Estados Unidos no ano passado, período notoriamente difícil no que concerne aos índices de desemprego. Segundo o relatório do US Department of Labor (“After the Dot-Com Bubble: Silicon Valley High-Tech Employment And Wages in 2001 and 2008”, por Amar Mann eTony Nunes, Ago/2009), apesar da recessão econômica, a disponibilidade de empregos de alta-tecnologia na verdade cresceram 2,5% em 2008. A média salarial, no entanto, caiu 1,5% naquele ano. O salário médio anual no setor de alta-tecnologia subiu de US$97.344 em 2001 para US$132.351 em 2008, um aumento de 36% no período. Em comparação, os salários médios anuais subiram apenas 21,7% considerando todos os outros setores.

Fundamental nisso tudo é o papel do empreendedor que acreditou nas suas idéias inovadoras transformando-as em produto, invariavelmente viabilizando uma nova perspectiva. Caberia perguntar qual seria o DNA de um empreendedor? Seria possível identificar características únicas de um empreendedor? Seria inato ou resultado de um treinamento? Tendo trabalhado com empreendedores por mais de 25 anos e se fixado na concepção de que o empreendedor já nasce feito, Fred Wilson (editor do blog AVC.com), em seu artigo “Nature vs Nurture and Entrepreneurship” (19/02/10), diz acreditar que há “características únicas e determinantes de empreendedores” e lista as que mais observou: (1) uma crença obstinada em si mesmo; (2) uma auto-confiança que beira a arrogância; (3) um desejo de encarar riscos e ambigüidades, e uma capacidade de conviver com eles; (4) uma capacidade de construir uma visão e vendê-las a muitas outras pessoas; (5) um imã para talentos.

Uma palavra parece resumir as três primeiras características: audácia. E sua contrapartida em ídiche, “chutzpah”, é apontada como um dos principais fatores no desempenho de Israel como um modelo de economia fortemente empreendedora por Dan Senor e Saul Singer, autores de “Start-up Nation: The Story of Israel's Economic Miracle” (Twelve Books, Nov/2009). Em 60 anos, com uma população de 7,1 milhões de pessoas, em constante estado de guerra, sem grandes recursos naturais, Israel produz mais startups que nações estáveis como Japão, Coréia, Canadá, e Reino Unido. Das 333 empresas estrangeiras (i.e., de fora dos EUA) listadas no índice NASDAQ, 63 são de Israel (mais que toda a Europa em conjunto), perdendo apenas para a China que contabiliza 102 empresas. Em termos de atração de “venture capital”, os números falam por si: per capita, Israel atraiu duas vezes o volume de investimento atraído por empresas americanas, e trinta vezes mais que a Europa. Tudo isso em meio à crise econômica. Senor e Singer recorrem ao sentimento de audácia (chutzpah) para justificar a resiliência israelense, que segundo eles está em toda a parte: na forma como estudantes universitários falam com seus professores, empregados desafiam seus superiores, e sargentos questionam seus generais. E lembram que o que há em comum entre Proctor & Gamble, General Electric, Hewlett Packard, Microsoft, e Google é que foram todas criadas ou tiveram seu primeiro grande impulse durante um período de declínio econômico. “É preciso chutzpah para tentar levantar dinheiro e começar um negócio quando outros estão fechando.”

A bem da capacidade de se reinventar, prevalece no Vale do Silício, tanto quanto em Israel, o sentimento de insatisfação com o status quo, aliado a uma cultura de desafio à autoridade, e uma atitude de tolerância à falha. Talvez aí estejam elementos básicos do genoma de um empreendedor.

Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

Investimentos e Notícias (São Paulo), 22/02/2010, 11:46hs, http://www.investimentosenoticias.com.br/ultimas-noticias/artigos-especiais/inovacao-tecnologica-audacia-e-o-genoma-de-empreendedor.html

Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online, Recife), 22/02/2010, 11:46hs, http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/artigos/2010/02/22/inovacao_tecnologica_audacia_e_o_genoma_de_empreendedor_64540.php