segunda-feira, 28 de setembro de 2009

As Moedas Virtuais Entre Pares e a Revolução Monetária

ARTIGOS ESPECIAIS

28/09 - 11:00

As Moedas Virtuais Entre Pares e a Revolução Monetária

28 de setembro de 2009 - No mundo digital, onde quer que haja um intermediário entre um recurso e o consumidor final, a internet está mostrando desnecessária a presença desse “homem-no-meio”. Vejam-se os exemplos do que ocorre na indústria de conteúdo de mídia (música, filmes), assim como na indústria da informação (jornalismo). Presença mais forte dessa implacável tendência para a eliminação do intermediário surge com o conceito de redes “peer-to-peer” (“par-a-par”, ou “entre-pares”), que veio a permitir que qualquer máquina na rede, em dado momento, possa atuar como servidor à disposição de um cliente (seu par). Com efeito, segundo a Wikipedia, peer-to-peer (abrev. “P2P”) é um termo que teve origem no conceito popular de desenho de aplicações entre-pares para computador, massificado pelos grandes sistemas distribuídos de compartilhamento de arquivos, tais como o Napster, o primeiro portal desse tipo criado no final dos anos 1990’s. Tamanho é o simbolismo de descentralização que traz consigo, o conceito tem inspirado novas estruturas e filosofias em outras áreas do relacionamento humano. Em certos contextos o termo é utilizado para se referir ao networking social igualitário que parece estar emergindo amplamente na sociedade contemporânea, e que é viabilizado pelas tecnologias da internet.

Desde a sua origem, a internet foi concebida como uma rede ponto-a-ponto consistindo de pares “iguais”, de modo que o transporte de dados entre pares poderia ser feito utilizando, em momentos distintos, diferentes conjuntos de recursos, estes permanecendo transparentes aos pontos extremos. Mais ainda, em sua evolução a web tem natureza essencialmente orgânica ao invés de centralizada. Daí, o termo P2P se refere a uma forma específica de dinâmica relacional, baseada na pressuposta equipotência de seus participantes, organizada através da cooperação livre de iguais com vistas ao desempenho de uma tarefa comum, para a criação de um bem comum, com formas de tomada de decisão e autonomia que são amplamente distribuídas na rede. A conotação ideológica parece inescapável. Segundo Michel Bauwens, autor do ensaio “P2P and Human Evolution: Peer to peer as the premise of a new mode of civilization” (“P2P e Evolução Humana: Peer to peer como a premissa de um novo modo de civilização”, 2005), trata-se de uma “forma de organização humana baseada-em-rede que se apóia na livre participação de parceiros equipotentes, engajados na produção de recursos comuns, sem recorrer à compensação monetária como o fator chave de motivação, e que não é organizada de acordo com métodos hierárquicos de comando e controle.”

A mera existência de uma rede de comunicações de amplo alcance e de característica essencialmente orgânica como a internet está trazendo mudanças profundas. Em seu livro “The Wealth of Networks – How Social Production Transforms Markets and Freedom” (“A Riqueza das Redes – Como a Produção Social Transforma os Mercados e a Liberdade”, Yale University Press, 2006), Yochai Benkler afirma que “possibilitadas pela mudança tecnológica, estamos começando a ver uma série de adaptações econômicas, sociais e culturais que tornam possível uma transformação radical de como construímos o ambiente de informações que ocupamos como indivíduos autônomos, cidadãos, e membros de grupos sociais e culturais. (…) A mudança trazida pelo ambiente de informações em rede é profunda. É estrutural. Vai aos próprios fundamentos de como mercados liberais e democracias liberais têm coevoluído por quase dois séculos.”

Em tempos de crise financeira global, de enfraquecimento do dólar, e de questionamentos sobre regulação do mercado financeiro, eis que surge o supra-sumo da descentralização financeira: a noção de “moeda peer to peer”, que, em se consolidando, poderia ser um forte indicador de que estaria por vir uma “revolução monetária global”. Em matéria intitulada “The Currency Revolution” (Wall Street Journal, 09/09/09), Andy Jordan chama à atenção para o fato de que em tempos como este em que as discussões inevitavelmente se voltam para moedas alternativas ou complementares, muitos dos envolvidos em redes sociais alimentam a esperança de que as moedas virtuais peer to peer tenham vindo para ficar. O fundador de uma rede social de viajantes aventureiros chamada Hub Culture, e autor do livro “Hub Culture: The Next Wave of Urban Consumers” (Wiley, 2002) seria o que se pode chamar de evangelizador das moedas peer to peer: “Você vai ver inexoravelmente, o movimento em direção às finanças peer to peer”, diz Stan Stalnaker. E vai mais além: “As pessoas negociarão individual e independentemente entre si, no mundo todo. Vai acontecer, não há como negar.”

Em parte para atender às necessidades dos membros de sua rede social Hub Culture, em sua maioria viajantes contumazes que se deparam frequentemente com a necessidade de comprar e vender moeda estrangeira, Stalnaker criou uma moeda digital chamada Ven, atrelada ao dólar, que permite que os membros da rede social Hub Culture negocie mercadorias e serviços assim como conhecimento. Tendo sido lançada em Julho de 2007, ven é uma moeda digital peer to peer com circulação tendo chegado à casa dos 700 mil vens em Julho último, segundo a DGC Magazine. A palavra “ven” tem sua origem na tradição budista, que lhe atribui o significado “compartilhamento que vem da doação”.

Uma contribuição de Stalnaker ao blog da Harvard Business School intitulada “Here Comes the P2P Economy” (“Aqui Vem a Economia P2P”, 26/02/08) já fazia a previsão: um choque como o que aconteceu com a mídia tem tudo para acometer também outras indústrias, algumas delas de forma mais rompedora. Aliás, já está sendo sentido nos serviços financeiros. O fenômeno do microcrédito iniciou o processo: o empréstimo de pequenas somas a grupos sociais carentes (e entre tais grupos) em economias mais pobres mostrou que os membros coletivamente acabaram garantindo o próprio retorno do empréstimo ao banco. “Combine isso com o poder de uma rede digital global, e um novo modelo de banco começa a tomar forma.”

Segundo Stalnaker, é aí que os sistemas financeiros P2P estão prontos para fazer com a indústria bancária o que aconteceu com a indústria de mídia. Já existe, inclusive, uma série de sítios que realizam o que se caracteriza como “banco peer to peer”: um sistema online que permite a seus membros individuais completarem transações financeiras entre si usando um processo no estilo leilão através do qual são feitas ofertas para uma quantia específica a uma dada taxa de juros, e aí os interessados têm a opção de procurar pela combinação quantia-taxa que está de acordo com suas necessidades. Embora tendo iniciado em economias subdesenvolvidas ou em desenvolvimento (África, México, etc.) alguns portais mais conhecidos já realizam operações de empréstimo peer to peer e microcrédito nos países desenvolvidos, incluindo Kiva.org, Proper.com, LendingClub.com, além de alguns “novatos” tais como Lubbus.com (Espanha), Loanio.com, PertuityDirect.com e Smava.pl (Polônia). “É apenas uma questão de tempo para que tais sistemas digitais eliminem a arbitragem realizada pelos grandes bancos”, continua Stalnaker.

Além disso, Stalnaker acredita que muito em breve serão usadas as chamadas “moedas pessoais” para fazer pagamento por serviços relacionados ao conhecimento propiciados por outros indivíduos, tais como a apresentação a pessoas ou grupos de pessoas e dicas de compra. Além de estarem sujeitas às mesmas flutuações e cotações determinadas pelo mercado, tais moedas terão seu valor atrelado à reputação e ao tamanho da rede (medido pelo status como especialista e pelo número de amigos), ao invés de expectativas de mercado e tamanho da economia. Embora pouco ortodoxa, a idéia de Stalnaker obteve destaque na lista das principais idéias revolucionárias para 2008 da Harvard Business Review, citada também na lista de 2009: “Ano passado Stan Stalnaker exuberantemente esboçou um futuro no qual comunidades P2P intercambiariam tudo desde energia elétrica a crédito de reputação pessoal” (“The 2009 HBR List of Breakthrough Ideas”, Lew McCreary, 28/01/09).

Em entrevista a Andy Jordan para a matéria do Wall Street Journal, Stalnaker diz que uma rede social é um lugar ideal para se começar uma moeda personalizada, pois tem confiança já embutida na infraestrutura. Com efeito, intangíveis tais como “confiança,” “reputação,” e até mesmo “atenção” passam naturalmente a fazer parte integrante dessas novas moedas. Como exemplo concreto, Jordan menciona a Seriosity, empresa co-fundada pelo Professor de Comunicação Social da Stanford University, Byron Reeves, especialista em respostas psicológicas à mídia interativa, que comercializa um produto chamado “Attent” que é adicionado ao Microsoft Outlook. O Attent utiliza uma moeda digital chamada “Serios,” que é anexada a mensagens eletrônicas (emails) para significar urgência. Cada empregado recebe uma cota, digamos semanal, de serios, e a cada mensagem a ser enviada o empregado associa seu “valor” (i.e., importância, urgência), podendo avaliar sua repercussão pelo número de serios que a mensagem de resposta lhe traz. Quando alguém deseja ganhar a atenção de seu chefe, o Attent descobre a “taxa aberta” do chefe de forma a indicar quantos serios serão necessários para ao menos garantir que a mensagem será lida. Além do mais, como cada usuário tem uma cota limitada de serios, o Attent cria um mercado para o intangível “atenção”. Como política de incentivo à produtividade, pode-se estabelecer que usuários têm a chance de “ganhar” serios uns dos outros realizando algo como concluir uma tarefa antes da data planejada, por exemplo.

Em meio a alguns exemplos bem sucedidos do bom funcionamento do conceito de moeda virtual (os “Linden dollars” do Second Life, e os e-Rewards do Upromise, por exemplo), das dificuldades do governo americano em manter o controle sobre as transações no portal de leilão eletrônico da eBay assim como de transações de parceiros da Amazon.com, e diante da fortíssima participação da Ásia na concretização das moedas virtuais – segundo matéria de Brenda Goh na Reuters, os asiáticos gastam cerca de US$5 bilhões ao ano em compras virtuais em websites como Ozone e Cyworld – resta saber se a idéia da moeda virtual peer to peer virá de fato a desbancar 800 anos de práticas financeiras centralizadoras.

(Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

Investimentos e Notícias (São Paulo), 28/09/2009, 11:00hs, http://investimentosenoticias.com.br/IN_News.aspx?Parms=2653374,408,100,1

Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online, Recife), 28/09/2009, 06:51hs, http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/artigos/2009/09/28/as_moedas_virtuais_entre_pares_e_a_revolucao_monetaria_54789.php



segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Mercado do Anúncio Gráfico na Internet

ARTIGOS ESPECIAIS

21/09 - 08:00

O Mercado do Anúncio Gráfico na Internet

21 de setembro de 2009 - No coração da economia da internet reside a indústria do anúncio interativo, que veio a se consolidar a partir de 2002. Naquela época, a tecnologia preferida para os anúncios na internet eram os vistosos banners exibidos em portais como Yahoo! e MSN, que ainda existem mas hoje representam cerca de 20% dos investimentos em propaganda online. Mais da metade desses investimentos vão para a chamada “propaganda de busca” (em inglês, “search advertising”), modalidade amplamente dominada pela Google, que exibe textos curtos ao lado dos resultados de busca baseados na palavra-chave da consulta, e o anunciante paga apenas quando o usuário clica no anúncio. Na propaganda de marca (em inglês, “brand advertising”), os anúncios de “mídia rica” estão substituindo os banners, pois permitem que os usuários interajam através de cliques, e dessa forma seu engajamento possa ser rastreado. E tudo isso faz com que o dispêndio em propaganda seja menos especulativo, passando a ser tratado como um custo de vendas. Segundo especialistas, essa é uma das razões pelas quais o setor tem sofrido menos com a recessão econômica que outros setores.

A propaganda online é diferente da propaganda tradicional no mínimo devido ao fato de que a internet dispõe de recursos para estender a função da propaganda bem além daquilo que a mídia tradicional é capaz de realizar. Exemplo disso, utilizado no artigo “Internet Advertising Formats and Effectiveness” (“Formatos e Eficácia da Propaganda na Internet”, por Hairong Li e John D. Leckenby, 2004), é que consumidores podem clicar num anúncio em forma de banner de um livro eletrônico, consultar o índice do livro, encomendar o livro, e baixar o “e-book” para o seu computador, tudo isso através da conexão com a internet. Nenhuma das mídias tradicionais poderia oferecer tal capacidade combinada de comunicação, transação e distribuição. A função expandida da propaganda pela internet, segundo Li e Leckenby, vem de sua integração horizontal de três capacidades fundamentais de canal de marketing (comunicação, transação e distribuição), e de sua integração vertical de comunicações de marketing, incluindo anúncio, relações públicas, promoção de vendas e marketing direto.

Em relatório de Maio último sobre a nova realidade do dispêndio das empresas americanas em propaganda, a eMarketer diz que a parcela da internet no investimento em anúncio em mídia estava crescendo por pelo menos um ponto percentual a cada ano. Duas tendências estariam produzindo esses ganhos rápidos: marqueteiros gastariam mais com anúncios online, ao mesmo tempo em que gastariam menos em anúncios colocados em outras mídias tais como jornal impresso, rádio e lojas. E esses deslocamentos no dispêndio seriam anteriores à recessão, mas as forças econômicas atuais tanto reforçariam os novos modelos de propaganda quanto estariam tornando-os mais permanentes. Dessa forma, apesar da crise econômica, o dispêndio total com anúncios online cresceria em 2009 para um valor sem precedentes de US$24,5 bilhões. Após o ganho incremental de US$1,1 bilhões deste ano, a eMarketer projetava que o dispêndio em anúncios online continuaria a galgar novos patamares a cada ano até 2013. Quatro seriam as razões para a expansão continuada: (1) muitos marqueteiros consideram que os anúncios pela internet são mais mensuráveis do que os anúncios em outras mídias; (2) os marqueteiros vêem os anúncios na internet como mais direcionáveis, e isso propiciaria melhor eficiência no gasto com propaganda; (3) marqueteiros continuam a reequilibrar seus orçamentos de propaganda, levando uma parcela maior para o anúncio online de forma a acompanhar o aumento do tempo em que as pessoas estão passando conectadas à internet. Segundo Randall Rothenberg, presidente e CEO da Interactive Advertising Bureau, uma outra razão para o otimismo é que a propaganda online está tornando obsoleta a distinção entre o dispêndio de marketing “acima da linha” e “abaixo da linha”. O primeiro alimenta a sensibilização ou a consideração da marca por um consumidor que planeja uma compra, e esse dispêndio é normalmente cortado em períodos de recessão. Por outro lado, o gasto abaixo-da-linha inclui promoções ou cupons para estimular a preferência do consumidor pela marca quando ele se aproxima de uma compra, ou até mesmo bônus em esquemas de fidelização, o que torna tal alocação de dispêndio mais robusta. De modo geral, o marketing online a cada vez mais busca sensibilização, consideração, preferência e fidelidade, tudo ao mesmo tempo.

Ainda segundo a eMarketer, o crescimento seria desigual, considerando a heterogeneidade da internet. Os anúncios em vídeo, por exemplo, estariam rapidamente ganhando uma parcela maior no bolo dos investimentos em propaganda. Em compensação, os marqueteiros gastariam, em 2009, menos que ano anterior com banners, isto é, anúncios gráficos estáticos também conhecidos através do termo em inglês “display ads”.

Apesar de bastante atraente ao internauta, o problema com esses anúncios gráficos é que, com a diversidade de formatos, e os milhares de sítios nos quais o anunciante quer inserir seu anúncio, normalmente leva horas para planejar e gerenciar uma campanha publicitária com esse tipo de anúncio online. Em razão dessa complexidade, muitos anunciantes simplesmente nem cogitam utilizar “display ads”, ou não investem o tanto quanto gostariam. Por outro lado, alguns veículos acabam ficando com até 80% de seu espaço para propaganda sem vender. Em seu anúncio oficial do AdExchange, novo produto da Google, Neal Mohan, Vice Presidente de Gerência de Produtos, compara a uma companhia aérea voando a maior parte do tempo com suas aeronaves vazias.

Lançado em 17/09/09 no blog oficial da Google, e com o objetivo de simplificar o sistema de compra e venda de anúncios gráficos (“display ads”), ao mesmo tempo em que propicia ferramentas para medir o desempenho do anúncio, o AdExchange deve servir como um mercado em tempo real tanto para os veiculadores de anúncios quanto para as redes de agências publicitárias negociarem espaço de “display advertising”.

A julgar pela descrição fornecida pela gigante da propaganda de busca – que tenta sair da posição inferior que ocupa em propaganda em display – o produto promete revolucionar o mercado, e transformar em realidade a expectativa de seu CEO Eric Schmidt de que esse seria um dos caminhos para expansão da receita da empresa em tempos de desaceleração do crescimento da propaganda de busca. Desenha-se o seguinte cenário: um usuário solicita uma página web de um sítio que está participando na rede de troca de anúncios gráficos, e aí o veiculador notifica a rede que o espaço naquela página está disponível, podendo também passar à rede algo sobre aquele usuário, baseado em suas atividades online ou seus hábitos de compra. A partir desse ponto, os anunciantes se engajam num leilão para adquirir o espaço para o anúncio, cada um oferecendo quantidades diferentes dependendo dos atributos daquele usuário, da hora e possivelmente de outros fatores. O “display ad” do vencedor é então encaixado na página, tudo isso acontecendo quase que instantaneamente.

Trata-se de uma evolução do que chamamos de propaganda direcionada, que, aliás, tem se mostrado significativamente mais eficaz – e confiável – em dados níveis de dispêndio do que muitos tipos de propaganda tradicionais. E isso deve incrementar o deslocamento dos orçamentos publicitários para o anúncio online. Tudo isso resultado da melhoria significativa que se vislumbra na capacidade de aliar relevância dos anúncios com mensurabilidade da resposta. A desconfiança de que pelo menos uma dessas características estaria aquém de um mínimo esperado tem impedido que marqueteiros explorem o verdadeiro potencial da internet como a mídia mais mensurável da história do marketing.

Segundo especialistas, o fato das respostas aos anúncios gráficos online serem tão ruins justifica-se, em grande medida, pela irrelevância do conteúdo. Com o AdExchange, a promessa é de que essa situação deverá mudar significativamente. Há, obviamente, preocupações relativas à privacidade do usuário, mas espera-se que o sistema esteja efetivamente interessado nos interesses de compra do usuário, e não em sua identidade ou quaisquer outras informações pessoalmente identificáveis.

(Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

Investimentos e Notícias (São Paulo), 21/09/2009, 08:00hs, http://investimentosenoticias.com.br/IN_News.aspx?Parms=2644510,408,100,1


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Dispositivos Sociais e o Impacto sobre Privacidade

ARTIGOS ESPECIAIS

15/09 - 19:18

Dispositivos Sociais e o Impacto sobre Privacidade

15 de setembro de 2009 - Quando se fala no impacto da tecnologia na privacidade do cidadão imediatamente vêm à tona as questões relativas à proteção a informações de natureza privada. Em recente artigo intitulado “People Can Be So Fake: A New Dimension To Privacy And Technology Scholarship” (“Gente Pode Ser Tão Falsa: Uma Nova Dimensão aos Estudos de Privacidade e Tecnologia”, 27/08/09, Stanford Center for Internet and Society, http://ssrn.com/abstract=1458637), Ryan Calo enriquece a discussão tradicional, que, desde a publicação, em 1890, do clássico “The Right to Privacy” (“O Direito à Privacidade”) de Samuel Warren e Louis Brandeis, tem se concentrado na capacidade da tecnologia de manipular a informação, ao incluir uma nova dimensão ao estudo do impacto à privacidade exercido pelo chamado desenho antropomórfico ou social. Em particular, Calo chama à atenção para a influência dos chamados “dispositivos sociais” no pleno exercício da privacidade. Equipamentos que respondem à voz e alguns até com resposta também sob forma de voz, além de dispositivos com interfaces que os fazem se assemelhar a humanos, todos têm demonstrado sua utilidade e conveniência, fazendo-nos aceitar que máquinas tais como robôs de serviço pessoal ou social desempenhem todo um novo elenco de tarefas. O fato é que a natureza da interface homem-máquina está mudando, e, mais especificamente, se tornando menos passiva e mais “social”. Segundo Calo, tal socialização da interface traz consigo o potencial de afetar valores fundamentais de privacidade simplesmente nos fazendo sentir observados e avaliados.

Há uma rica literatura em comunicações e psicologia sugerindo que o ser humano está, em sua essência, condicionado a reagir a essas interfaces como se uma pessoa estivesse verdadeiramente presente. E, naturalmente, as interfaces sociais são desenhadas de forma a capturar nossa atenção e avançar no quesito interatividade, liberando-nos para outras tarefas. Ao mesmo tempo, porém, as tecnologias que emulam pessoas podem ter efeitos indesejáveis, e um deles que, segundo Calo, se encontra bem documentado por estudos científicos, é a mudança de atitude, comportamento e estado psicológico que nos acomete diante de uma dessas interfaces. A adoção em larga escala dessas tecnologias pode vir a limitar as oportunidades não apenas de se sentir a sós, como de despertar a curiosidade e o auto-desenvolvimento. E tais efeitos trazem verdadeiro perigo pois não podem ser enfrentados através das técnicas tradicionais propiciadas pelas novas tecnologias de proteção ao sigilo da informação tais como cifragem e anonimização.

A propósito, essa necessidade de “estar a sós” já havia sido enfatizada por Warren & Brandeis: “A intensidade e a complexidade da vida, atendente aos avanços da civilização, têm tornado necessário algum retiro do mundo, e o homem, sob a influência refinadora da cultura, tem se tornado mais sensível à vida em público, de modo que a solidão [no bom sentido] e a privacidade têm se tornado essencial ao indivíduo”. Em seu tratado sobre privacidade e liberdade (“Privacy and Freedom”, Atheneum, NY, 1967), Alan Westin descreve, em termos da linguagem das artes dramáticas, a necessidade dos “momentos fora do palco” (em inglês, “moments off-stage”): “Como atores no palco dramático, (...) indivíduos podem sustentar papéis somente por períodos razoáveis de tempo, e nenhum indivíduo pode representar indefinidamente, sem alívio, a variedade de papéis que a vida demanda. Tem que haver momentos ‘fora do palco’ quando o indivíduo pode ser ‘ele próprio’.”

Em um forum de discussão sobre seus escritos a respeito da socialização da interface homem-máquina, Calo esclarece que, após ter ouvido a opinião de um grande número de acadêmicos da área de comunicações, engenheiros da Google, da Intel, e de outras empresas de tecnologia, além de ter, ele próprio, conduzido pesquisas na mídia especializada em tecnologia, foi levado a concluir que, de fato, tudo se encaminha para que os computadores e dispositivos eletrônicos inteligentes se tornem mais socialmente ativos e mais espertos, fazendo uso de algo do que se chama de inteligência artificial de modo a se parecerem humanos. Como exemplo, cita as palavras de Marissa Mayer, vice-presidente de “Serviços de Busca e Experiência do Usuário” da Google, numa palestra recente, dizendo que a tecnologia de busca ainda estava em sua infância, e que a gigante da busca estava explorando uma interface mais conversacional que permitiria aos usuários fazer perguntas ao buscador em viva voz como se estivessem conversando com uma pessoa.

Num outro artigo em seu blog no Center for Internet and Society (“Weegy: The Future Of Search?”, 18/06/09), Calo convida o leitor a experimentar uma “prévia” do que a tecnologia de busca na internet pode vir a ser nos próximos cinco a dez anos, visitando o portal Weegy—“um ser artificial online, equipado com um engenho de busca avançada e especialistas vivos.” Weegy usa uma combinação de técnicas de busca padrão, inteligência artificial de baixo nível, e “crowd-sourcing” (um modelo de produção que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários espalhados pela internet para resolver problemas, criar conteúdo ou desenvolver novas tecnologias) para responder a perguntas dos usuários em áreas tão diversas quando “Família e Paternidade” e “Eletrônica”. Embora ainda longe da perfeição, Weegy parece elevar o patamar de interatividade ao qual estarão galgando as tecnologias de buscas do futuro. Arriscando previsões, Calo acredita que a próxima geração das interfaces de busca serão mais sociais, e provocarão uma certa diluição da distinção entre o trabalho da máquina e o trabalho humano. E tudo isso contribuirá para que o ser humano vá reagir a máquinas sociais como se elas fossem verdadeiramente humanas e sociais. Em decorrência disso, será mais difícil para o cidadão fazer buscas na internet sobre tópicos “incômodos”, impopulares ou embaraçosos. Trata-se, obviamente, de uma restrição à nossa privacidade na medida em que estaríamos deixando de fazer algo que poderíamos vir a fazer, caso a sensação de estar a sós prevalecesse.

O fato é que vários estudiosos, entre eles Byron Reeves e Clifford Nass (autores do livro “The Media Equation: How People Treat Computers, Television, and New Media Like Real People and Places”, CSLI, Stanford, 2003), têm demonstrado exaustivamente que as pessoas respondem a máquinas sociais como se estas fossem verdadeiramente humanas. Em geral, a explicação para tal fenômeno do subconsciente vem sob forma de duas alternativas: evoluímos numa época em que as coisas que se pareciam com humanos eram de fato humanas, ou humanos são super-afinados com outros humanos de forma a capitalizar em nossas maiores vantagens evolucionárias de linguagem e cooperação.

De concreto, sabemos que num nível bem básico, temos dificuldade em distinguir entre vozes, rostos e conversações reais, e os produtos da chamada tecnologia social que os imita. Em decorrência disso, adotamos involutariamente tecnologias com o potencial para interromper o “estar a sós” e esfriar a iniciativa e a livre expressão. É preciso estar atento para o fato de que danos dessa natureza são extremamente perigosos pois se dão no subconsciente, e não podem ser remediados com as salvaguardas tradicionais de privacidade.

Por outro lado, levando-se em consideração as reconhecidas falhas no regime de políticas de privacidade expressas sob forma de textos que, efetivamente, nunca são lidos, pode estar aí uma oportunidade para se dar um passo adiante: ao invés de atrair sensações desnecessárias de observação, deveríamos considerar a criação daquelas sensações onde de fato há o perigo de que nossas informações serão utilizadas e coletadas de formas que nos afetem. E é nesse sentido que Calo afirma que as propriedades únicas da tecnologia social também oferecem uma oportunidade de melhorar o panorama da proteção à privacidade, mais particularmente no ciberespaço. O uso cuidadoso do desenho antropomórfico (por exemplo, através do emprego de avatares) poderia um dia substituir as políticas de privacidade ineficazes por uma advertência visceral e direta que alinhasse a nossa experiência com a prática real da informação.

(Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

Investimentos e Notícias (São Paulo), 15/09/2009, 19:18hs, http://investimentosenoticias.com.br/IN_News.aspx?Parms=2639678,408,100,2


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Capital de Aventura e a Democratização das Oportunidades de Geração de Riqueza

ARTIGOS ESPECIAIS

07/09 - 16:35

O Capital de Aventura e a Democratização das Oportunidades de Geração de Riqueza

7 de setembro de 2009 - Nos dias de hoje é inegável a importância da inovação tecnológica na democratização das oportunidades de geração de riqueza. Na lista dos 400 americanos mais ricos, segundo a Forbes, está o mais jovem de todos: Mark Zuckerberg, fundador da Facebook, tendo se tornado, já aos 23 anos de idade (em 2007), o mais jovem bilionário “self-made” de toda a história. Entre os 15 primeiros da lista de 2008 figuram seis “celebridades” do mundo da tecnologia da informação: Bill Gates (Microsoft), Lawrence Ellison (Oracle), Paul Allen (Microsoft), Sergey Brin (Google), Larry Page (Google), Steve Ballmer (Microsoft). Em comum entre eles, além do aspecto “self-made” (i.e., fortuna não-herdada), está o “combustível” inicial para os respectivos empreendimentos que lhes trouxeram o patrimônio bilionário: o chamado “venture capital”, frequentemente traduzido como “capital de risco”, ou “capital empreendedor”, mas que pode muito bem ser chamado de “capital de aventura” (como, aliás, o é na língua espanhola), dada a natureza aventureira da empreitada, pois envolve alto risco, alto retorno, longo prazo, ausência de liquidez, e normalmente está restrita a investimentos em nova tecnologia, novos conceitos de marketing ou novas possibilidades de aplicação de um produto.

Recente pesquisa da National Venture Capital Association (NVCA) traz dados de empregos e vendas que conclusivamente mostram a importância das empresas apoiadas pelo capital de aventura na economia americana. É possível encontrar empresas financiadas com capital de aventura em todos os setores da economia, embora com maior facilidade nos setores de tecnologia da informação e de assistência à saúde. Empreendimentos inovadores tais como Genentech, Medtronic, Microsoft, Amazon, Fedex, e Intel estão entre as diversas empresas americanas que receberam investimento de capital de aventura nos seus estágios iniciais. Juntas, as empresas alimentadas com esse tipo de capital empregaram mais de 10,4 milhões de trabalhadores americanos em postos de alta-qualidade, e geraram cerca de US$2,3 trilhões em receita em 2006. O total de receita das empresas apoiadas pelo capital de aventura compreendeu 17,6% do produto interno bruto, e 9,1% do emprego no setor privado dos EUA em 2006.

A mesma pesquisa revela que as empresas recipientes do capital de aventura bateram seus competidores que não tiveram esse tipo de investimento tanto em criação de empregos quanto em crescimento da receita. Entre 2003 e 2006, o emprego em empresas apoiadas por esse tipo de capital aumentou em 3,6%, enquanto que nacionalmente o emprego cresceu apenas 1,4%. No mesmo período, o crescimento das vendas nos EUA cresceu 6,5%, enquanto que as empresas apoiadas pelo venture capital experimentaram um crescimento de 11,8% nas vendas. Como se não bastasse, empresas inovadoras e de tecnologia de ponta que recebem investimentos de capital de aventura mantêm firmes os índices de emprego e de receita, em diversos setores da indústria, desde computadores e periféricos, vendas a varejo e distribuição, semicondutores, software, e telecomunicações, até biotecnologia, serviços financeiros, serviços de assistência à saúde, e dispositivos médicos. Ainda segundo o relatório da NVCA, em 2006, essas empresas do setor de computadores e periféricos empregavam cerca de 2 milhões de americanos, seguidas da indústria de energia industrial com 1,3 milhões de empregos. O setor de computadores e periféricos foi também o líder em 2006 com receita de US$533 bi, seguido do setor de energia com US$302,4 bi em receita naquele ano. Além do mais, os produtos revolucionários gerados pelos setores de biotecnologia e dispositivos médicos com apoio do capital de aventura sustentou em 2006 cerca de 494.000 postos de trabalho com altos salários e de mão de obra altamente especializada.

Ainda conforme o estudo da NVCA, o fato concreto é que o capital de aventura tem propiciado aos EUA um apoio inestimável ao talento e ao apetite empreendedores de seus cidadãos, transformando idéias e pesquisas científicas em produtos e serviços sem paralelo no resto do mundo. Trata-se de uma classe de ativos privados que financiam empresas desde a forma mais simples – muitas vezes apenas um empreendedor e uma idéia expressa sob forma de um plano de negócios – até organizações maduras e consolidadas. Empresas de capital de aventura são, na sua grande maioria, formadas por profissionais e administradores de capital de risco que financiam e agregam inteligência gerencial às empresas mais inovadoras e promissoras, que, regra geral, são empresas jovens e emergentes. Nesse sentido, o dinheiro financia novas idéias que não poderiam ser financiadas através das linhas de crédito mais tradicionais, e que, em geral, ameaçam produtos e serviços estabelecidos, e, tipicamente, demandam de cinco a oito anos para serem lançadas. Dessa forma, o capital de aventura se revela um tanto peculiar enquanto classe de ativo de investidor institucional, pois o investimento é feito numa empresa cujas ações, em termos práticos, não tem liquidez tampouco valor, até que a empresa amadureça por um período de cinco a oito anos. O acompanhamento e os futuros financiamentos seguem o desenvolvimento da empresa, servindo de checkpoints as chamadas “rodadas”, que ocorrem tipicamente a cada um ou dois anos, ocasião em que as ações são alocadas entre os investidores e a equipe administradora dos fundos com base numa “valoração” de comum acordo.

Além do dinheiro propriamente dito, o investimento de capital de aventura acrescenta inteligência gerencial, pois os parceiros de capital se põem diretamente envolvidos nos aspectos gerenciais da empresa, tipicamente assumindo posições no conselho de administração. Esse envolvimento é crítico para o sucesso de um jovem empreendimento, o que significa que os parceiros de capital têm o direito e a obrigação de recrutar talentos executivos e gerenciais capazes de escalar o empreendimento. Numa startup, é comum haver interação intensa e direta entre os fundadores e/ou empreendedores e a equipe executiva e gerencial, e isso limita o número de startups nas quais um dado fundo pode investir.

Curiosamente, toda essa nova cultura americana de investimento e suporte à inovação através do capital de aventura encontra num imigrante francês (que chegou a servir no exército americano) o seu nascedouro. Segundo Spencer Ante, colunista da BusinessWeek, em seu mais recente livro “Creative Capital: Georges Doriot and the Birth of Venture Capital” (“Capital Criativo: Georges Doriot e o Nascimento do Capital de Aventura”, HarvardBusiness School Press, Abril 2008), a emergência do capital de aventura moderno acontece na era do pós-Segunda-Guerra, e, não obstante a dominação do Vale do Silício, nasceu na Costa Leste pelas mãos de Georges Doriot. A noção de investir num negócio com dinheiro obtido além da própria família – o ponto crucial desse segmento nos dias de hoje – foi uma democratização sem precedentes do mundo dos negócios. A carreira de Doriot, por muitos anos professor da Harvard Business School, como capitalista de aventura começou formalmente em 1946, quando ele e diversos políticos de liderança, executivos de negócios, e acadêmicos da área de Boston, fundaram a American Research and Development (ARD). Embora o capital de risco já existisse há séculos, a ARD estabeleceu um novo modelo com três características fundamentais. Primeiramente, a ARD formava um “pool” de dinheiro de investidores, alguns deles instituições, que não tinham necessariamente qualquer relação entre si nem com a própria ARD. Em segundo lugar, a administração da ARD, sobre a qual Doriot não detinha quase nenhum controle, determinava como investir esse pool de dinheiro sem a influência dos investidores. Finalmente, após dar errado em alguns casos iniciais, a ARD buscou financiar empresas pequenas, cujos produtos se baseavam em pesquisa científica básica, ou mesmo simplesmente idéias para empresas. O caso mais célebre foi o de uma indústria de computadores que, no final dos anos 1950’s, desejava competir com a IBM trazendo como inovação os conceitos de interatividade e compartilhamento de tempo (“time-sharing”). De um investimento de US$70.000, a Digital Equipment Corporation evoluiu para uma entidade multimilionária, propiciando a seus investidores os frutos de um retorno-no-investimento de nada menos que 70.000 por cento. Segundo Ante, esse foi o primeiro gol de placa do capital de aventura, e o primeiro indicador de que esse setor viria a se consolidar definitivamente no mundo das finanças.

Conforme relato apaixonado de Ante, apesar do término trágico de sua carreira, todos os veios da vida de Doriot se conectam para formar algo profundo. Na segunda metade do século XX, os EUA experimentaram uma transformação histórica, na qual uma sociedade dominada por grandes corporações como Standard Oil, US Steel, e General Motors se tornou uma nação conduzida por startups apoiadas por capital de aventura tais como Digital Equipment Corporation, Intel Corporation, Microsoft, Starbucks, e tantas outras. Desde então, essas empresas pequenas e inovadoras têm criado novos mercados e milhões de postos de trabalho de alto-salário, ao mesmo tempo que forçado as velhas indústrias a se tornarem mais eficientes e produtivas. Doriot teria se tornado o profeta dessa nova “Nação de Startups”, o líder de uma cruzada econômica e social que democratizou o “clubinho” no qual havia se transformado o mundo das finanças. Ante considera que, mais que qualquer outra pessoa, Doriot – através de seus ensinamentos, escritos e liderança na vida militar, acadêmica e nos meios financeiros – foi o grande pioneiro da transição para uma economia baseada no empreendedorismo e na inovação. Por essa razão, Doriot deveria ser reverenciado tanto quanto outros titãs do mundo dos negócios como J.P. Morgan, John D. Rockefeller, ou Andrew Carnegie.

Numa palestra recente intitulada “The History of Venture Capital”, proferida no Programa de Empreendedorismo da Stanford University, Ante chama o Vale do Silício de “capital do capital de aventura”, e credita vários fatores para o deslocamento dessa cultura para a Costa Oeste dos Estados Unidos. Entre eles, a iniciativa de Frederick Terman, ex-reitor-executivo de Stanford e considerado o “arquiteto acadêmico do Vale do Silício”, ao estabelecer uma relação de mútuo respeito e benefício entre a academia e a indústria que acabou levando à formação do inigualável eixo de inovação em torno de Stanford. Contribuíram também uma maior aceitação da diversidade étnica na Costa Oeste, e uma educação universitária abundante no Vale do Silício. Fator fundamental, as empresas de capital de aventura em torno da lendária Sand Hill Road, que beira o campus de Stanford, começaram a surgir a partir dos anos 1960’s, incluindo as líderes Kleiner Perkins Caufields & Byers e Sequoia Capital.

A indústria do capital de aventura tem sentido bastante a crise econômica, alguns analistas chegando a sugerir a morte do modelo de negócios que foi tão bem-sucedido nessa revolução tecnológica da era da internet. Representantes tradicionais dessa indústria reagem e, em contraponto, afirmam que o melhor momento chegou: Tim Draper (Managing Director da Draper Fischer Juvertson), em palestra intitulada “Seizing the Economic Bull” (“Domando o Touro Econômico”) no Programa de Empreendedorismo de Stanford em 25/02/2009, diz que a depressão econômica do início de 2009 é, na verdade, uma grande dádiva para capitalistas de aventura, e até mesmo uma boa nova para os aspirantes a empreendedor. Segundo Draper, algumas das marcas mais dominantes foram iniciadas durante depressões e recessões, beneficiando-se de uma competição enfraquecida e um mundo com receio de se mexer. Essa é a hora de agir para aqueles que têm uma idéia inovadora. É preciso coragem.

E, como dizia Doriot, “o homem verdadeiramente corajoso é aquele que faz algo corajoso quando ninguém está olhando”.

(Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

Investimentos e Notícias (São Paulo), 07/09/2009, 16:35hs, http://investimentosenoticias.com.br/IN_News.aspx?Parms=2628474,408,100,1

Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online, Recife), 07/09/2009, 09:12hs, http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/artigos/2009/09/07/o_capital_de_aventura_e_a_democratizacao_das_oportunidades_de_geracao_de_riqueza_53590.php