segunda-feira, 25 de maio de 2009

As Redes Sociais e o Mercado Consumidor Global

ARTIGOS ESPECIAIS

25/05 - 06:40

As Redes Sociais e o Mercado Consumidor Global

São Paulo, 25 de maio de 2009 - Uma pesquisa de mercado recente da Nielsen revelou que as redes sociais na internet foram “o fenômeno do mercado consumidor global de 2008”. Dois terços da população da internet mundial visitam uma rede social ou portal de blog e o setor agora representa quase 10% de todo o tempo de internet. A categoria das ‘comunidades de membros inscritos’, que inclui as redes sociais, ultrapassou e-mail pessoal para se tornar o quarto setor mais popular online no mundo, depois de busca, portais e aplicações de software de PC. Mais importante, a pesquisa revela também que o crescimento em popularidade das redes sociais – e a audiência resultante – é apenas metade da estória. O crescimento assustador na quantidade de tempo que as pessoas estão passando nesses portais está mudando a maneira como as pessoas passam o tempo online e tem ramificações no que diz respeito a como as pessoas se comportam, compartilham e interagem nas suas vidas cotidianas normais. Afinal, o que são essas redes sociais, e qual é seu alcance hoje?

Um serviço de rede social online é um portal da internet que se presta para permitir a convivência à distância, por meio desse ‘espaço virtual’, de pessoas que compartilham interesses e/ou atividades, ou que estão interessadas em explorar os interesses e atividades de outros. O fato concreto é que tais serviços de rede social têm estimulado novas formas de comunicação, convivência e compartilhamento de informações. Além de correio eletrônico, essas redes oferecem serviços de mensagem instantânea, arquivamento e compartilhamento de fotos, músicas e filmes, formação de grupos de interesse e/ou mobilização, etc.

Os principais tipos de serviços de rede social são aqueles que contêm divisões por categoria (tais como ex-colegas de escola), meios para se conectar com amigos (normalmente com o auxílio de páginas auto-descritivas, i.e., perfis), e um sistema de recomendação associado à confiança. Os métodos mais populares hoje combinam muitas dessas funcionalidades, com Facebook amplamente usada em todo o mundo; MySpace, Twitter e LinkedIn sendo mais utilizadas na América do Norte; Nexopia no Canadá; Bebo, Hi5, MySpace, dol2day (sobretudo na Alemanha), Tagged, XING, e Skyrock em partes da Europa; Orkut e Hi5 na América do Sul e América Central; e Friendster, Multiply, Orkut, Wretch, Xiaonei e Cyworld na Ásia e nas Ilhas do Pacífico. A idéia de que computadores eletronicamente interligados pudessem formar a base de uma interação social mediada por computador já havia sido sugerida no final dos anos 1970 no livro “The Network Nation” de S. Roxanne Hiltz e Murray Turoff (Addison-Wesley, 1978). O prefácio, escrito por Suzanne Keller, começava assim: “Após ter por tanto tempo ouvido sobre a frieza e a impersonalidade do computador, aqui está um livro que propõe exatamente a tese oposta, a saber, que computadores podem se tornar a fonte de uma nova e especial forma de comunidade humana.” Muitas foram as tentativas de levar a idéia a bom termo, desde a Usenet, a ARPANET, a LISTSERV, até os chamados “bulletin board services” (BBS). Os primeiros portais de redes sociais começaram sob a forma de comunidades online tais como “The WELL” (1985), Theglobe.com (1994), Geocities (1994) e Tripod (1995). Há quem diga que um dos primeiros portais preparados especificamente para o relacionamento entre pessoas no plano internacional foi o Classmates.com, que iniciou suas operações em 1995. Seguiram outros como SixDegrees, BlackPlanet, e Youthstream. À época, o foco se concentrava em prover salas de bate-papo (“chat”), e o compartilhamento de informações pessoais se dava através de ferramentas de publicação de páginas pessoais que vieram a se transformar em precursoras do fenômeno do blog (abreviação de “web log”). O advento do formato MP3 a partir de 1994, e do ‘streaming’ de video, além do aumento do acesso à banda larga, permitiu que o computador se tornasse uma mídia mais fácil de usar, com uma capacidade quase total de manipulação: música, correio, telefone, informação, tudo passou a aparecer num mesmo local – a tela do computador.

Porém foi somente entre 2002 e 2004 que apareceram os grandes atores nesse cenário, e que fincaram de vez o conceito de rede social no ciberespaço: primeiramente a Friendster (que a Google tentou adquirir em 2003), depois a MySpace, a Bebo, e a Facebook, esta última somente abrindo amplamente a participação (que até então se restringia a estudantes universitários americanos) a partir de 2006, ocasião em que também abriu a possibilidade de incorporar aplicativos desenvolvidos por terceiros (os chamados “add-on”s). Alguns desses aplicativos permitiram a montagem do grafo de relações da rede social do próprio usuário, dessa forma ligando redes sociais ao chamado “networking” social.

A partir de Março de 2005 quando a Yahoo! lançou o “Yahoo! 360°”, as redes sociais começaram a florescer como um componente de estratégia de negócios na internet . Em Julho do mesmo ano a News Corporation adquiriu a MySpace, e em Dezembro a ITV (rede de TV comercial do Reino Unido) comprou a Friends Reunited. Estima-se que o número de serviços de redes sociais no mundo já tenha ultrapassado 200, sem contar as chamadas “redes sociais verticais” que se tornaram possíveis devido a ferramentas como a Ning (uma rede social de redes sociais). Recentemente, o Twitter tomou conta de todas as atenções, e, mesmo sem algumas das funcionalidades essenciais de um serviço de rede social, tem permitido que serviços de “add-on” (ferramentas de terceiros) se conectem e forneçam algumas dessas funcionalidades através de API’s (interface de programação de aplicações) públicas. Com cerca de 10 milhões de visitantes únicos mensais em Fevereiro último, o Twitter cresceu para 19 milhões em Março, e os últimos números da comScore dão conta de 32 milhões em Abril, ultrapassando Digg (23 milhões), LinkedIn (16 milhões), e o portal do New York Times (17,5 milhões).

O fato é que essas redes estão mudando a configuração dos negócios, da política, e da vida em sociedade. Em recente relatório intitulado “Business, politics and the new social media” (Fevereiro 2009), a Deloitte chama a atenção para o “terremoto” que está acontecendo na mídia em escala global: “você sabe que algo está mudando sob seus pés. Você pode até não entender a natureza dessa mudança ou como se ajustar à paisagem que rapidamente se reorganiza. Você só sabe que, por alguma razão, você pode estar correndo o risco de perder o contato com intervenientes principais. No epicentro dessa mudança está a emergência de redes de mídia social. Diferente de tecnologias anteriores de telecomunicações, elas não apenas conectam comunidades. Elas as criam. Elas permitem que as pessoas formem e reformem equipes espontâneas baseadas em torno de interesses comuns. Não é exagero o caso de que a mídia social está transformando corporações e outras organizações.”

Um artigo recente na revista Mundo Corporativo (Deloitte, Abril-Junho 2009) intitulado “Redes de um mundo mais complexo” analisa alguns dos resultados de uma pesquisa recente da Deloitte em parceria com o Harrison Group sobre “O Futuro da Mídia”. Uma das conclusões revela o que já se dizia ainda que sem tamanha confirmação estatística: o consumidor de mídia está no comando, isto é, não mais pretende se submeter à oferta dos produtos de mídia, mas, ao contrário, busca por si próprio o que lhe interessa. A partir de 8.824 entrevistas online com cidadãos entre 14 e 75 nos de idade dos Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Inglaterra, e Japão, realizadas no período de 17 de Setembro a 20 de Outubro de 2008, os resultados do estudo foram classificados em quatro grupos conforme a faixa etária: a “Geração Y”, de 14 a 25 anos; a “Geração X”, de 26 a 42 anos; a “Geração Baby Boomers”, de 43 a 61 anos (população nascida nos anos pós-Segunda Guerra, quando houve uma explosão demográfica nos EUA e Europa); e a “Geração Madura”, de 62 a 75 anos. Os números indicam que os jovens-adultos (da Geração X) são os mais envolvidos com atividades interativas online, e a produção de conteúdo próprio online é mais comum entre os mais jovens. No Brasil, ouvidos 1.022 consumidores, chegou-se à conclusão de que aqui é o país, dentre os países envolvidos no estudo, onde há a menor concentração no consumo de uma mídia tradicional específica (TV), e onde há mais envolvimento com atividades online. A TV, que já foi a fonte de entretenimento preferida, perdeu o lugar para “assistir filmes em casa” (55%) e “navegar na internet” (53%), e foi mencionada como preferida por apenas 46% dos entrevistados. Nada menos que 81% dos brasileiros entrevistados disse que o computador superou a televisão como fonte de entretenimento.

Segundo uma pesquisa recente da Nielsen (“The Global Online Media Landscape”, Abril 2009), o crescimento meteórico da mídia social é, de longe, o evento mais significativo do espaço de mídia online nos dias de hoje. Os números falam por si só: no último ano, enquanto que 18% foi o aumento do tempo gasto na internet pelo consumidor global, o aumento do tempo dedicado às “comunidades de membros inscritos” chegou a 63%. Redes sociais representam metade da população online na Suíca e na Alemanha (crescimentos de 207% e 140%, respectivamente), e 80% da população online no Brasil. A Facebook se tornou a maior rede do mundo, ultrapassando a marca dos 200 milhões de membros na segunda semana de Abril de 2009. Por sua vez, o aumento no tempo dedicado à Facebook de Dez/2007 a Dez/2008 foi de 566%: de 3,1 bilhões de minutos para 20,5 bilhões, levando essa rede social ao posto de 11º portal mais popular nos EUA, logo atrás do portal da Disney. O maior crescimento veio de pessoas entre 35 e 49 anos (+24,1 milhões), enquanto que na faixa etária entre 50 e 64 anos o aumento foi de 100% (+13,6 milhões).

Apesar da revolução no grau de atenção dedicado à internet, e cada vez mais à mídia social, as mídias tradicionais mantêm sua influência. A pesquisa da Deloitte/Harrison revela que a publicidade na TV continua sendo a mais influente para todos os públicos, tendo recebido a preferência de 75% dos entrevistados, enquanto que a internet recebeu 45%, atrás também das revistas (57%). Mesmo assim, as receitas provenientes de anúncios online continuam a bater recorde: segundo a Nielsen, o total de receita de anúncio na internet nos EUA totalizaram US$6,1 bilhões no 4º trimestre de 2008, um aumento de 4,5% em relação ao 3º trimestre de 2008 (US$5,8 bi), e um aumento de 2,6% em relação ao 4º trimestre de 2007 (US$5,9 bi). Em um ano (2008), o total de receita com anúncio online foi de US$23,4 bi, 10,6% a mais que os US$21,2 bi de 2007. Observe-se o contraste: na soma de todas as mídias, as receitas com anúncios caíram 2,6% em 2008.

Todos esses números falam por si só, e não há como ignorar o fenômeno da mídia social e das redes sociais. O crescimento da audiência e o quociente de engajamento do video online, por exemplo, está forçando os marqueteiros a reavaliar positivamente o valor da experiência online. Além disso, a adoção das redes sociais, tanto por consumidores quanto por corporações, agita o mercado, e, na era do Twitter, as barreiras do “feedback” quase desapareceram, criando um ambiente quase ideal para a reavaliação em tempo real da experiência de marcas, reações de campanha, ou eventos de marca. A convivência cibernética vai se tornando uma realidade global, e um número crescente de estudiosos e acadêmicos têm procurado estudar a Facebook e outras redes sociais como ferramentas para a pesquisa sobre as novas formas de interação social e seus impactos na sociedade. Entre os tópicos mais investigados aparecem Identidade, Privacidade, Aprendizado, Capital Social, e os Nativos Digitais. Um livro recentemente publicado com o apoio da Forrester Research Inc., intitulado “Groundswell : Winning in a World Transformed by Social Technologies”, por Charlene Li & Josh Bernoff (Harvard Business School Press, Abril 2008), evoluiu a partir de um Relatório de 2006 da Forrester sobre computação social. Segundo o portal dedicado ao livro, o termo “groundswell” se refere a “um movimento espontâneo de pessoas usando ferramentas online para se conectar, assumir o controle de suas próprias experiências, e conseguir o que elas precisam – informação, apoio, idéias, produtos, e poder de barganha – umas das outras."

(Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

Gazeta Mercantil (São Paulo), 25/05/2009, 06:40hs, http://gazetamercantil.com.br/GZM_News.aspx?parms=2510903,408,100,3

Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online, Recife), 25/05/2009, 10:01hs, http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/artigos/2009/05/25/as_redes_sociais_e_o_mercado_consumidor_global_46969.php



terça-feira, 19 de maio de 2009

Cem Anos de Empreendedorismo - Reitor de Stanford como Primeiro Anjo Investidor

ARTIGOS ESPECIAIS

18/05 - 23:30

Cem Anos de Empreendedorismo - Reitor de Stanford como Primeiro Anjo Investidor

São Paulo, 18 de maio de 2009 - Em 2009 comemoram-se os 100 anos de tradição de empreendedorismo e transformação de conhecimento em empreendimento da Stanford University, que deu origem a tantos ícones da tecnologia como Hewlett-Packard, Cisco e Google, e tem sido reconhecida como um catalisador no surgimento do proeminente eixo tecnológico mundial que é o Vale do Silício. Mesmo nesses tempos de recessão econômica, "A Fazenda" (como é conhecida Stanford, em tributo à sua verdadeira origem) continua produzindo idéias de negócios e talentos como nunca — em grande medida devido a seu forte programa de ensino do empreendedorismo em alta tecnologia. Conforme seu portal, o “Stanford Technology Ventures Program” (Programa de Empreendimentos em Tecnologia de Stanford, STVP), localizado no Vale do Silício, é o centro de empreendedorismo na Escola de Engenharia de Stanford. Hospedado pelo departamento de “Ciência e Engenharia da Administração”, o STVP é dedicado a acelerar a educação de empreendedorismo em alta-tecnologia, e a criar pesquisa erudita em firmas de base tecnológica que, por sua vez, forneça novas percepções a estudantes, estudiosos, e líderes de negócios. O STVP fornece a estudantes de graduação e de pós-graduação de todos os cursos as competências empreendedoras necessárias para usar inovações na solução dos principais problemas mundiais, com uma ênfase em meio-ambiente, saúde humana, tecnologia da informação, e outras questões globais.

A grande maioria dos relatos históricos sobre o Vale do Silício e o papel da Stanford University começam em 1956 com William Shockley (co-inventor do transistor) e Sherman Fairchild (fundador da Fairchild Semiconductor, pioneira do circuito integrado e precursora da Intel). Vez por outra faz-se um retorno a um passado um pouco mais longínquo dando o devido crédito a William Hewlett e David Packard (fundadores da HP em 1939) pelo estabelecimento naquela região de uma cultura empreendedora em alta tecnologia. Pouca gente sabe, no entanto, da importante “pré-história” que abriu caminho e tornou possíveis todos esses desenvolvimentos, conforme alerta Thomas Lee, Professor de Engenharia Elétrica da Stanford University, em recente palestra à comunidade acadêmica. A primeira gigante da alta tecnologia na região hoje conhecida como Vale do Silício foi a “Federal Telegraph and Telephone” (FTT), fundada em 1909 pelo recém-graduado de Stanford, Cyril Elwell, como a “Poulsen Wireless Telephone & Telegraph Company”. O nome tem sua razão de ser: o transmissor de arco, que, ao contrário de todos os tipos anteriores de transmissores de rádio, gerava ondas de rádio contínuas, foi inventado pelo engenheiro dinamarquês Valdemar Poulsen in 1902. Entretanto, a transferência bem sucedida da tecnologia do “arco de Poulsen” para os EUA somente foi ocorrer no verão de 1909 quando Cyril Elwell trouxe os direitos de patente americanos para a Califórnia. Por essa parte da sua história, essa região teria sido denominada a “ala do arco” (“arc alley”) antes de se tornar o “vale do silício” (“silicon valley”).

Para que o empreendimento pudesse ter fôlego para sobreviver os primeiros anos em ritmo de inovação tecnológica, foi necessário o aporte financeiro de investidores, e dentre os que investiram na FTT estava ninguém menos que o primeiro Presidente (isto é, Reitor) da Stanford University, David Starr Jordan, juntamente com William Crocker (mais conhecido como o banqueiro que ajudou a reconstrução de San Francisco após o grande terremoto de 1906). Pode-se dizer que Jordan se apresenta como o primeiro “Angel investor” do Vale do Silício. Conforme a Wikipedia, “Investidor anjo” é uma pessoa física ou uma empresa disposta a investir em empresas que estão iniciando suas atividades empresariais (startup) ou pensam em iniciar atividades comerciais ou industriais, contudo, não contam com o aporte financeiro necessário para a empreitada. Trata-se de alguém que acredita no projeto, vislumbra retorno econômico e aporta os recursos para lançar o empreendimento, e está disposto a correr riscos, enquanto aguarda ganhos financeiro com o crescimento da empresa. O fato é que ao final da Primeira Guerra Mundial, a FTT já estava fabricando transmissores de ondas contínuas de 500kW baseados em osciladores de arco de resistência negativa, tendo deixado para trás concorrentes já estabelecidos como a General Electric (GE) para ganhar o contrato de fornecimento de equipamentos estratégicos com a Marinha Americana.

O primeiro doutorado em engenharia elétrica de Stanford foi concedido a Leonard Fuller por seus avanços científicos e tecnológicos que permitiram à FTT construir esses transmissores de alta potência. O fato é que a FTT cultivou sementes intelectuais que floresceriam mais tarde, não apenas na própria região como também em outras partes do mundo. Lee de Forest (inventor americano creditado pela invenção do Audion, modelo revolucionário de válvula eletrônica) realizou seu mais importante trabalho no triodo de tubo a vácuo no âmbito da FTT, e até o futuro “pai do Vale do Silício”, Fred Terman, foi seu estagiário. O fundador da Texas Instruments, Cecil Green, também foi outro que fez parte da equipe da FTT sob o comando de Charles Litton (fundador da Litton Engineering Laboratories, e ex-aluno de Stanford que projetou e construiu o primeiro torno de emolduração de vidro, revolucionando para sempre a indústria da válvula eletrônica).

Sem surpresas, Stanford ficou em 1º lugar num recente levantamento das “Dez Melhores” comunidades de “startups” (empresas tecnológicas jovens) de universidades realizado por YouNoodle, uma firma que analisa startups. Em seguida, a relação das primeiras cinco foi completada por: MIT, a Universidade de Cambridge, a Universidade da California em Berkeley, e o Indian Institutes of Technology (Institutos Indianos de Tecnologia). Anualmente organizada no mês de Fevereiro, a “Entrepreneur Week” (Semana do Empreendedor) de Stanford, neste ano do centenário de fundação da primeira startup (FTT) ocorreu em 17 entidades distintas do campus. Uma delas, chamada de BASES — (“Business Association of Stanford Entrepreneurial Students”, Associação de Negócios dos Estudantes Empreendedores de Stanford) — foi fundada em 1996 e diz contar com mais de 5.700 membros ativos e ex-alunos envolvidos em mais de 400 startups. Como todo ano, há um prêmio para quem apresentar o melhor plano de negócios, e este ano houve 235 inscrições — mais que o dobro do número de inscrições recebidas no auge da era ponto-com.

Durante o ano escolar, há uma aula semanal com o título de “Entrepreneurial Thought Leaders” (ETL) que é organizada na Escola de Engenharia pelo Stanford Technology Ventures Program, liderado pelos professores Tom Byers e Tina Seelig, que em Janeiro último receberam o prestigioso Gordon Prize da National Academy of Engineering por seus serviços prestados no ensino da engenharia. Semana passada, a aula teve que ser deslocada para o Stanford Memorial Auditorium de forma a acomodar uma palestra intitulada “The Future of Microsoft. The Future of Technology” no dia 03/05/09 pelo CEO da Microsoft, Steve Ballmer. Dirigindo-se a uma audiência de cerca de 700 alunos e visitantes, Ballmer compartilhou seu otimismo pela inovação emergente em meio a uma crise econômica sem precedentes, revelando alguns aspectos relevantes de sua própria história como empreendedor: “Não há melhor momento para se começar um negócio, (...), se você tem uma boa idéia, vai conseguir financiamento. (...) Microsoft e Apple foram iniciadas num período recessionário.”

Outra palestra recente (08/04/09) também atraiu um grande número de alunos: o CEO e fundador da Nvidia, Jen-Hsun Huang, falou sobre a importância de uma grande visão e de se fomentar uma cultura de inovação. O incentivo à atitude de encarar riscos, segundo Huang, requer uma tolerância a falha. Para os tecnologistas do Vale do Silício, isso é quase como um princípio fundamental, mas conceitos como o valor de "falhar rápido" — para rapidamente aprender das derrotas — pode ser iluminante numa universidade de elite onde os alunos são normalmente super bem sucedidos no que fazem. Aos seus alunos a Professora Seelig sempre solicita que preparem um "résumé de falha" para ilustrar como eles deveriam aprender a partir dos erros.

Em matéria de 08/05/09 de Scott Harris no Mercury News (“Stanford's startup culture stronger than ever”), Randy Komisar, um empreendedor que se transformou em capitalista de aventura da Kleiner Perkins Caufield & Byers, co-autor do best-seller sobre a era ponto-com “The Monk and the Riddle” (Harvard Business School Press, 2000), professor de tempo parcial em Stanford e membro do conselho de diretores de uma startup chamada Cooliris, diz que ele e Byers usam um método socrático em sala de aula, constantemente questionando e encorajando o diálogo. "No Vale do Silício criamos essa cultura que é auto-perpetuante,uma cultura que atrai o tipo de pessoas que prosperam na ambigüidade, na inovação, e na tomada de riscos."

Já se disse alguma vez, com grande propriedade, que no Vale do Silício se formou um tecido social que tem produzido alguns dos mais espetaculares avanços tecnológicos da história da humanidade, e que espalhou uma infecciosa dicotomia de contracultura e empreendedorismo: criatividade, espírito libertário e não-conformismo aliados a espírito realizador e não-temeroso a falha. Que o motto de Stanford, “Die Luft der Freiheit Weht”, proposto pelo seu primeiro Presidente (i.e., Reitor) David Starr Jordan, continue a inspirar a todos de forma a garantir que os ventos da liberdade continuem soprando!

(Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

Gazeta Mercantil (São Paulo), 18/05/09, 23:30hs, http://www.gazetamercantil.com.br/GZM_News.aspx?parms=2499453,408,100,15

Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online, Recife), 18/05/09, 08:49hs, http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/artigos/2009/05/18/cem_anos_de_empreendedorismo__reitor_de_stanford_como_primeiro_anjo_investidor_46561.php