quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Padrões de inovação de startups de sucesso e o desenvolvimento de novos negócios no Brasil

Padrões de inovação de startups de sucesso e o desenvolvimento de novos negócios no Brasil
Agosto 4, 2014

Segundo um interessante estudo divulgado em 2013 pela Harvard Business Review envolvendo as características mais comuns dos 100 mais bem sucedidos diretores executivos (CEOs) da história, descobriu-se, através da compilação de dados pelo site CEO.com e a consultoria DOMO, que 98% são do gênero masculino (com apenas 2% do gênero feminino), 97% são casados (e com 3,1 filhos em média, de acordo com os dados disponíveis), 99% são graduados (Steve Jobs foi um representante do 1%) e apenas 29% conquistaram título de MBA. Estas características atribuídas aos CEOs, não necessariamente determinam um padrão de sucesso de uma empresa, mas servem como ponto de partida para verificar a situação das pessoas envolvidas na condução do mundo do empreendedorismo. Muitas vezes, o que faz a diferença é a forma como as personalidades moldam as decisões certas que são essenciais a todo negócio.

Também é declarado que 21 destas companhias assumidas pelos CEOs foram fundadas na década de 90 e no estado da Califórnia nos Estados Unidos, o que define mais claramente a vocação do Vale do Silício para o empreendedorismo de raízes científicas, promovido pela presença de novos negócios de impacto mundial. Esta região estratégica foi “esculpida” através de avanços tecnológicos, principalmente, pela corrida armamentista da Segunda Guerra Mundial e aeroespacial da Guerra Fria e, posteriormente, com a expansão da presença de empresas na internet comercial.

O estudo também ressalta que apenas 9% dos CEOs das melhores empresas no mundo são brasileiros, indicando o quanto os empreendedores brasileiros precisam de novas oportunidades e desafios. E que, curiosamente, apenas 4% de todos os CEOs pesquisados são fundadores, 79% foram por meio de promoções internas e 17% são contratados de fora da empresa, demonstrando que nem sempre o idealizador é o que conduz a execução do negócio quando este se torna mais maduro.

O que diferenciou o ecossistema de negócios do Vale do Silício?
Assim como a SiliconWadi, o “Vale do Silício” na costa mediterrânea de Israel, conflitos militares causaram um rápido desenvolvimento de tecnologias de ponta por meio de grandes fundos financeiros, como o fundo de US$100 milhões da Yozma Venture Capital Ltd. em Junho/1992, totalmente de propriedade do setor público, o que proporcionou uma queda de custos no setor industrial, principalmente da eletrônica. Além disso, muitas destas empresas já estabelecidas no Vale do Silício norte-americano, principalmente as mais recentes, começaram como startups, empresas nascentes que tiveram boas condições de desenvolvimento de ideias, proximidade com os principais investidores, talentos provenientes da Stanford University e recursos disponíveis para conquistar cada vez mais novos clientes, sendo que algumas até aplicaram conceitos de intraempreendedorismo ao longo de sua história.

Uma iniciativa intraempreendedora pode ser um fator diferencial na vida dos funcionários das empresas e pode consistir num projeto promissor que pode vir a se tornar uma startup interna ao se demonstrar viável. A antiga rede social Orkut é um bom exemplo deste tipo de projeto apoiado pelo Larry Page, primeiro e atual CEO do Google. O Orkut vigorou invicto no Brasil antes do Facebook ser traduzido para o português e foi desenvolvido por um funcionário turco homônimo, Orkut Büyükkökten, projetista-chefe, em seu tempo off para inovação (do inglês, innovation time off ou ITO), o qual estava estabelecido em até 20% do seu horário de trabalho normal.

A tendência é que o ITO dos funcionários aumente à medida que traga resultados para dentro de uma empresa que aplique este incentivo como forma de manter talentos e criar produtos alinhados com os interesses da linha de produção e não apenas por meio de diretrizes top-down comuns nas organizações. O Google também costuma comprar outras startups, mesmo as menos conhecidas, para entender mercados inexplorados e internaliza suas equipes para concentrar esforços numa área que traga resultados. Talvez, este comportamento seja a mais eficiente maneira de se manter atuante no futuro, seja qual for a direção dos acontecimentos, o que caracteriza um dos estágios mais altos de maturidade de um negócio.

Com uma visão estratégica, muitos CEOs costumam obter cada vez mais conhecimento, seja de um nicho de mercado ou para melhorar alguma competência pessoal, buscando acompanhar as necessidades dos funcionários e do mercado. Alguns CEOs promovem nas empresas o desenvolvimento de produtos inovadores como forma de se manterem mais visivelmente atuantes e até mesmo para obter reconhecimento e fidelização junto aos clientes, seja por meio de uma marca com valores agregados de fácil recordação ou um estilo de vida reconhecível. Neste cenário, as novas startups podem se inspirar na trajetória destas grandes empresas e também estabelecer novos padrões de prospecção e condução do negócio em seus diversos estágios de desenvolvimento.

O que as novas startups têm realizado para sobreviverem no mercado? 
A história do empreendedorismo baseado em startups evidencia o desenvolvimento de muitas ideias empreendedoras com a utilização enxuta de recursos iniciais (Lean Startup), plataformas de investimento-anjo (pessoas físicas que auxiliam financeiramente e com experiência no tipo de negócio), capital semente (quando o negócio recebe os primeiros grandes incentivos financeiros), venture capital (grandes rodadas de investimento de risco) e infraestruturas robustas na nuvem a custos competitivos para dar suporte a complexidade tecnológica de muitos dos novos empreendimentos, como a Amazon Web Services (AWS) e até mesmo multicloud (o uso de recursos de várias redes baseadas na nuvem, com a participação adicional da HP Cloud Services, Windows Azure, dentre outras).

Neste cenário, as startups mais promissoras estão utilizando planejamento adequado com o uso de ferramentas como o Business Model Canvas, criado por Alex Osterwalder em sua tese de doutorado em 2004, que modela conceitos de um negócio num único painel visual, tais como Atividades-chave (o que é necessário fazer para atingir a missão e os objetivos da empresa ao longo do tempo), Recursos-chave (os recursos necessários que geram os diferenciais da empresa na perspectiva do cliente), Rede de parceiros (as conexões de negócios que auxiliam a empresa), Proposição de Valor (os principais diferenciais da empresa), Segmentos de clientes (o público-alvo das ações do empreendimento), Canais (os meios para atingir os clientes, seja por distribuição, marketing, dentre outros), Relacionamento com o Cliente (a forma de demonstração para o cliente que ele é importante para a manutenção da empresa), Estrutura de custos (tudo que gera gastos para manter as estratégias adotadas) e Fluxos de receita (tudo que gera rendimentos financeiros). Assim, é possível manter um foco no modelo de negócios da empresa de maneira mais bem sucedida, facilitando a comunicação e o estabelecimento de metas a serem atingidas pelos empreendedores envolvidos.

Dessa forma, estas startups têm trabalhado em soluções de grande impacto em big data através do uso das mais diversas informações em diferentes formatos originados pelas instituições com a finalidade de melhorar a tomada de decisão gerencial (de times de esportistas a iniciativas governamentais), biotecnologia (ambiental e agrícola) e em aplicações para cidades inteligentes com foco em mobilidade e energia, o que também constitui o interesse de grandes empresas que buscam respostas para velhos problemas enfrentados pela sociedade moderna. Frequentemente, algumas startups já nascem com o intuito de serem compradas em algum momento oportuno.

No Brasil, ainda há mais foco na convergência de tecnologias pré-existentes, copycat (termo empreendedor para “copiar algo de fora” para o contexto brasileiro) e na virtualização de serviços que antes não envolviam diretamente a tecnologia. Todavia, os ecossistemas de startups estão cada vez mais descobrindo novas possibilidades e oportunidades de expansão por meio da inovação que otimize o cotidiano do país, o que é essencial para uma obter uma fatia do mercado de um segmento (market share) e, especialmente, na criação de novos mercados (inovação disruptiva).

Qual o impacto da ação inovadora e os desafios enfrentados no Brasil?
Através do Índice Global de Inovação (do inglês, The Global Innovation Index) 2014, calculado pela Johnson Graduate School of Management at Cornell University em parceria com o INSEAD (uma das escolas de negócios mais reconhecidas da Europa) e a Organização Mundial para a Propriedade Intelectual (WIPO), constata-se que o Brasil subiu 3 posições no ranking geral em relação a 2013, ocupando a 61º posição, o que demonstra um crescimento no setor. Embora, no grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil esteja à frente apenas da Índia (76º posição).

O índice é baseado nos fatores que influenciam a capacidade do país em fomentar e auxiliar a inovação, melhorando a estratégia de manter as empresas estabelecidas e também os novos negócios, considerando as características dos empreendimentos e até mesmo a estabilidade política. Cada fator possui um ranking próprio. Um ponto de destaque é no quesito absorção de conhecimento em que o Brasil atingiu a 25º posição, uma marca que reflete o comportamento do empreendedor brasileiro.

Desse modo, as novas empresas possuem esforços aplicados em modelos de negócio (formas de levantar e movimentar capital) cada vez mais criativos para conquistar uma base de colaboradores, investidores, parceiros de marketing e clientes para a sobrevivência do negócio, utilizando-os para validar hipóteses que geram novas tendências antes da concorrência. Contudo, por mais que haja cada vez mais acesso a facilidades no desenvolvimento de uma startup como, por exemplo, através do suporte de incubadoras (em universidades e instituições parcerias) e aceleradoras (através de programas governamentais, como o Startup Brasil), nem sempre o novo negócio é capaz de se destacar num cenário de incertezas mercadológicas.

Então, o que diferencia uma empresa de tantas outras que surgem com a proposta de transformar sonhos em realidade e até mesmo criar novas necessidades de massa? Muitos investidores citariam que é a capacidade de inovação contínua que gera resultados positivos em receita e com um risco que seja compensável.

A inovação pode ter um impacto decisivo na cultura de um novo negócio quando é uma meta desde o princípio e não apenas representa mais uma invenção ou novidade, e sim, algo que faça uma real diferença na vida das pessoas em determinado contexto, seja de maneira radical ou incremental, através da resolução ou a amenização de algum problema. Também não se deve negligenciar a qualidade que deve estar agregada a todas as etapas de desenvolvimento do novo produto para manter a confiabilidade do cliente na empresa nascente e o transformar num eficiente divulgador.

Não adianta ser o primeiro a lançar um produto e com divulgação expressiva, é necessário ser o melhor, oferecendo uma experiência única para o cliente, para não se tornar rapidamente obsoleto. Neste contexto, Paul Graham, investidor e um dos fundadores da Viaweb (a primeira plataforma de aplicação como serviço na web que permitia a criação de lojas virtuais) no texto "Do things that Don't Scale" (2013) enfatiza que uma startup não precisa ser necessariamente de natureza escalável para alcançar seus objetivos (o que sempre pode ser muito desejável), e sim, possuir caráter essencialmente sustentável, o que implica em inflamar a atenção do mercado no ritmo certo e saber deixar os clientes atuais satisfeitos e felizes com o produto ou serviço oferecido.

Nem sempre é simples definir o quanto um produto ou serviço é inovador, porque muitas vezes depende do nível de maturidade tanto da ideia quanto dos resultados práticos e perceptíveis que podem ser alcançados com a iniciativa empreendedora, o que pode ser um fator subjetivo dependendo do público-alvo que a aprecie (clientes ou investidores em potencial).

Também existe a resistência a quebra de paradigmas, quando uma inovação só é assim considerada quando se torna algo bem sucedido e estabelecido, pois muitas inovações podem ser negligenciadas seja por falta mais profunda de conhecimento ou por outros fatores alheios ao empreendedor. Assim, muitos empreendedores desconhecem outros mercados e diferentes países em que a mesma ideia ou produto pode estar sendo desenvolvido, o que pode culminar num padrão de risco ao sucesso do negócio, pois enfrentará potenciais concorrentes (que já podem estar num estágio muito melhor de desenvolvimento e de permanência no mercado) quando desejar ter alcance global.

O empreendedor brasileiro, geralmente, assumindo o título de fundador e CEO de uma startup, precisa estar constantemente atento às oportunidades que cada nicho de mercado pode oferecer, não apenas através de ideias inovadoras, e sim, de execuções inovadoras, ou seja, saber conduzir e se adaptar à adversidade e até mesmo a falta de grandes recursos financeiros. Além disso, é preciso saber explorar o ecossistema de startups em que está inserido por meio de novas parcerias de valor. O conhecimento sobre os acontecimentos no país e no mundo é o maior ativo para o sucesso e as decisões ao longo de sua empreitada a melhor forma de alcançá-lo a cada geração de novos negócios.

Felipe Prochazka, Mestrando, Centro de Informática da UFPE
Ruy J. G. B. de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Intraempreendedorismo e a Inovação em Empresas Estabelecidas

Intraempreendedorismo e a Inovação em Empresas Estabelecidas

TER, 21 DE JANEIRO DE 2014 10:33

O termo "empreendedor" foi usado pela primeira vez pelo economista irlandês Richard Cantillon em 1725, referindo-se ao indivíduo que assume riscos. Cantillon foi um mercador bem sucedido e seu trabalho teve uma única obra publicada somente após a sua morte: uma teoria monetária sobre a origem da riqueza e da formação dos preços. Frequentemente, o termo é atribuído ao economista francês Jean-Baptiste Say, muito embora não seja uma unanimidade entre os estudiosos do tema. Por definição, o empreendedor é aquele que percebe e aproveita as oportunidades, transformando-as em ideias comerciais, cria ou acrescenta valor através de processos, trabalho, capital e administra os riscos do mercado competitivo para colocar essas ideias em prática. O que distingue o empreendedor de outro indivíduo é a capacidade de administrar e lidar com a incerteza. Esse perfil é cada vez mais requisitado nos profissionais dentro das organizações.

As novas empresas, em particular as startups, tem investido na criação e na busca por novos modelos de negócio. Quando encontram um que seja viável, empreendem esforços para criar marca, montar uma rede de clientes e fornecedores até chegar no patamar da sobrevivência financeira. Muitas dessas novas empresas são compradas por grupos maiores que tem a aquisição na sua estratégia de renovação. Mas existem outras formas sustentáveis de inovar, investindo no maior patrimônio das empresas: as pessoas.

O que move o empreendedor? Muitos responderiam que é o dinheiro e a possibilidade de construir um patrimônio. Porém, aqueles que deixaram suas zonas de conforto e se arriscaram em montar seus próprios negócios visando somente o dinheiro fracassaram. Mas isso não quer dizer muita coisa, dado que várias estatísticas no Brasil e no mundo indicam o alto grau de insucesso dos novos negócios. Portanto, tomar a decisão de iniciar um novo negócio requer maturidade e sobretudo, planejamento. E se você pudesse realizar o seu sonho sem precisar deixar o seu posto atual de trabalho?

O que faz o intraempreendedor

Gifford Pinchot III usou o termo intraempreendedor (do inglês, intrapreneur) pela primeira vez em 1978 ("Intra-Corporate Entrepreneurship", escrito em co-autoria com sua esposa Elisabeth Pinchot na época em que ambos estudavam na Tarrytown School for Entrepreneurs em Nova Iorque) e, desde aquela época, empresas passaram a incentivar o desenvolvimento desses perfis entre seus funcionários, como 3M, Xerox, Volvo e, mais recentemente, empresas como Google e Coca-Cola. O intraempreendedor é o indivíduo que, em vez de tomar a iniciativa de abrir o seu próprio negócio, toma a iniciativa de criar, inovar e buscar novas oportunidades e negócios para a organização na qual trabalha. Mas por que um indivíduo iria optar por ser um intraempreendedor se ele pode se tornar um empreendedor?

O empreendedor segue seu rumo em empreender por prazer, por realização pessoal, profissional, e por acreditar que o seu trabalho vale a pena e pode ajudar a tornar a sua vida e a de pessoas ao seu redor melhores. O bom empreendedor é capaz de converter uma nova ideia em uma inovação com potencial de gerar uma "destruição criativa". As empresas podem e devem incentivar seus funcionários a pensarem e a produzirem novos negócios sob os olhares da empresa. O intraempreendedorismo libera o gênio criativo que existe em quem mais deveria entender da empresa e dos negócios da empresa: os seus funcionários.

Por outro lado, o intraempreendedorismo representa um grande desafio particularmente para as organizações já estabelecidas, pois à medida que uma empresa se consolida e se torna “incumbente” na sua indústria de atuação, seus gerentes tendem a se distanciar de ideias radicais e a se tornarem mais conservadores. A organização assume uma postura de maior acomodação, o que, por outro lado, traz a miopia e a aversão ao risco. Disso tudo resulta que os valores e as estruturas da empresa se tornam cada vez mais rígidos, e o foco se concentra na operação e na missão principal. Novas ideias são vistas como ameaças ao estado de coisas, ao invés de oportunidades, e, nesse espírito somente a inovação incremental encontra algum espaço para florescer. O fato é que incumbentes se concentram na preservação de suas posições em seus respectivos mercados, e dificilmente se arriscam a buscar avanços radicais ou novos mercados.

Em seu livro “Intrapreneurship: Managing Ideas Within Your Organization” (Univ of Toronto Press, 2011), Kevin Desouza define intraempreendedorismo como a “capacidade de um indivíduo de ser inventivo e empreendedor dentro dos parâmetros de uma organização.” E acrescenta: “Ser inventivo requer a liberdade de levar à frente suas ideias e desenvolvê-las, enquanto que ser empreendedor requer um foco em comercializar ideias para chegar a soluções que os clientes valorizam.”

A quinta pesquisa "Perfil do LIDE Futuro" realizada pela Fundação Getúlio Vargas em novembro de 2013 revela que 76% dos jovens brasileiros entrevistados pretendem estar empreendendo nos próximos 10 anos. Isso vai aumentar a escassez de profissionais nas mais diversas áreas, em especial, de tecnologia. Uma possível solução para o problema é incentivar e recompensar iniciativas empreendedoras dentro da própria empresa, dando mais liberdade aos intraempreendedores, fazendo-os se sentir mais independentes e, consequentemente, mais realizados.

O boom do empreendedorismo, incentivado pela explosão de startups, metodologias e ao acesso aos novos negócios digitais tem criado um novo ecossistema global de empreendedorismo. Termos como "Lean Startup", "Venture Capital" e "aceleradoras" estão no linguajar dos jovens aspirantes a empreendedores. Diversos eventos, palestras e competições difundem as melhores práticas para inciar e validar um negócio. O grande guru do empreendedorismo global, Steve Blank, é reconhecido pelo desenvolvimento da metodologia de desenvolvimento de clientes ("The Four Steps To The Epiphany", 2005), por sua vez responsável pela consolidação das bases teóricas do Lean Startup.

Qual a melhor forma de reduzir os riscos do intraempreendedorismo

O grande guru do empreendedorismo global, Steve Blank, é reconhecido pelo desenvolvimento da metodologia de desenvolvimento de clientes ("The Four Steps To The Epiphany", 2005), por sua vez responsável pela consolidação das bases teóricas do Lean Startup.

A metodologia Lean Startup contém um conjunto de processos e ferramentas que visa reduzir o desperdício, validando ou eliminando suposições erradas sobre o mercado. No ambiente do empreendedorismo corporativo, os princípios "enxutos" permitem a validação de iniciativas com o menor custo possível.

A grande dificuldade ao patrocinar a criação de novos negócios internos está no grau de incerteza dos resultados. A incerteza é a mesma que qualquer empresa encontra ao iniciar no mercado. Como os resultados em geral não aparecem no curto prazo, a liderança tende a gerar um desestímulo no intraempreendedor e na equipe, levando o negócio ao insucesso. Grandes empresas sabem como escalar o negócio, sabem como usar sua rede de relacionamentos, sabe como planejar e executar o planejamento. Empresas startups sabem como iniciar e validar um negócio, para torná-lo escalável. Juntas, elas podem fazer o que nenhuma delas faria sozinha.

Para Steve Blank, a tendência do empreendedorismo corporativo é olhar para as diferentes áreas do negócio como diferentes empresas que interagem entre si. James Brian Quinn já defendia a ideia de que praticamente todas as atividades dos funcionários podem ser consideradas serviços prestados a outras pessoas dentro da empresa ("Intelligent Enterprise", 1992). A maioria desses serviços seria mais bem prestada por intra-empresas do que por empregados subordinados ao comando tradicional. Ou seja, Quinn acreditava que no futuro grande parte dos funcionários será formada por intraempreendedores que operam intra-empresas de serviço interno, sendo controladas e cobradas por resultados como qualquer outra empresa que ofereça "serviços externos", com mais liberdade e mais responsabilidade.

O resultado da estruturação em intra-empresas será a criação de uma empresa com capacidade de aprendizagem. Ao difundir as metodologias Lean, reduz-se o desperdício de aplicar inovação dentro da organização. As grandes empresas possuem uma expertise em várias unidades do negócio, que podem dar suporte às intra-empresas para validar as hipóteses, entender as necessidades com uma profundidade maior que uma startup concorrente da organização, e oferecer ativos como networking, recursos e também pessoas. Porém, o grande benefício é a distância burocrática que as intra-empresas devem conseguir manter para criar novos métodos, processos e sistemas para gerar uma inovação disruptiva. Ao final, esses novos negócios podem se tornar novos recursos para as unidades de negócio atuais, ou tornarem-se novas unidades de negócio rentáveis por si só.

As grandes empresas devem agir como aceleradoras na criação de startups internas. Para a construção de inovação de dentro para fora, há algumas opções. A primeira delas é a contratação de "starters" e não de "scalers", ou seja, buscar pessoas com perfil empreendedor e capazes de enxergar uma oportunidade, criar formas de validação e transformá-la em demanda com baixo custo. O Grupo Buscapé Company tem feito isso no Brasil adquirindo e investindo em startups com alto poder de crescimento com a estratégia de acqui-hiring, ou seja, comprar empresas promissoras para conquistar os talentos que a fazem.

Outra opção é incentivar o intraempreendedorismo e transferir conhecimento sobre modelos de negócio, metodologias de validação de hipóteses, desenvolvimento ágil, etc. Para a Coca-Cola Company, o jeito mais fácil de tornar funcionários "scalers" em "starters" é dar a eles a oportunidade de aprenderem Lean Startup e suas ferramentas. Para isso, foi realizado em Junho de 2013 um Startup Weekend dentro da Coca-Cola de Atlanta, nos Estados Unidos. O Startup Weekend é um evento realizado em todo o mundo onde as pessoas vivem a experiência de criar, validar e lançar uma startup em 54 horas. A grande missão do Startup Weekend é inspirar e ensinar empreendedores a sair da zona de conforto, ampliar a rede de contatos e construir soluções de negócios com viabilidade econômica.

Entretanto, usar essas metodologias ágeis no desenvolvimento de novos negócios não garante o sucesso da iniciativa. Cada empresa deve descobrir a melhor forma de gerar inovação internamente. Segundo Carie Davis, diretor de inovação da Coca-Cola, a democratização dessas ferramentas torna mais fácil a tarefa de fazer as pessoas sonharem e pensarem soluções sustentáveis para algum dos maiores desafios mundiais. De qualquer forma, o esforço de compartilhar a essência do empreendedorismo gera um ambiente de trabalho mais inspirador e dá a possibilidade de construir algo realmente grande no mundo.

As empresas líderes de mercado tem buscado melhores formas para executar e crescer com o modelo de negócios e produtos definidos há anos. Uma das melhores formas de sobrevivência em um mercado competitivo é inserir a inovação como base dos valores da empresa. Incentivar e patrocinar iniciativas empreendedoras gera bons resultados para os negócios, e ao mesmo tempo, coloca a empresa num patamar de destaque no mercado, trazendo novas soluções, novas tecnologias ou novos modelos de negócio. A função básica do intraempreendedor é conceber diferentes visões de negócios e transformá-las em realidades de negócios.



Eduardo Menezes Pires, Mestrando, Centro de Informática da UFPE
Ruy J. G. B. de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE