terça-feira, 19 de maio de 2009

Cem Anos de Empreendedorismo - Reitor de Stanford como Primeiro Anjo Investidor

ARTIGOS ESPECIAIS

18/05 - 23:30

Cem Anos de Empreendedorismo - Reitor de Stanford como Primeiro Anjo Investidor

São Paulo, 18 de maio de 2009 - Em 2009 comemoram-se os 100 anos de tradição de empreendedorismo e transformação de conhecimento em empreendimento da Stanford University, que deu origem a tantos ícones da tecnologia como Hewlett-Packard, Cisco e Google, e tem sido reconhecida como um catalisador no surgimento do proeminente eixo tecnológico mundial que é o Vale do Silício. Mesmo nesses tempos de recessão econômica, "A Fazenda" (como é conhecida Stanford, em tributo à sua verdadeira origem) continua produzindo idéias de negócios e talentos como nunca — em grande medida devido a seu forte programa de ensino do empreendedorismo em alta tecnologia. Conforme seu portal, o “Stanford Technology Ventures Program” (Programa de Empreendimentos em Tecnologia de Stanford, STVP), localizado no Vale do Silício, é o centro de empreendedorismo na Escola de Engenharia de Stanford. Hospedado pelo departamento de “Ciência e Engenharia da Administração”, o STVP é dedicado a acelerar a educação de empreendedorismo em alta-tecnologia, e a criar pesquisa erudita em firmas de base tecnológica que, por sua vez, forneça novas percepções a estudantes, estudiosos, e líderes de negócios. O STVP fornece a estudantes de graduação e de pós-graduação de todos os cursos as competências empreendedoras necessárias para usar inovações na solução dos principais problemas mundiais, com uma ênfase em meio-ambiente, saúde humana, tecnologia da informação, e outras questões globais.

A grande maioria dos relatos históricos sobre o Vale do Silício e o papel da Stanford University começam em 1956 com William Shockley (co-inventor do transistor) e Sherman Fairchild (fundador da Fairchild Semiconductor, pioneira do circuito integrado e precursora da Intel). Vez por outra faz-se um retorno a um passado um pouco mais longínquo dando o devido crédito a William Hewlett e David Packard (fundadores da HP em 1939) pelo estabelecimento naquela região de uma cultura empreendedora em alta tecnologia. Pouca gente sabe, no entanto, da importante “pré-história” que abriu caminho e tornou possíveis todos esses desenvolvimentos, conforme alerta Thomas Lee, Professor de Engenharia Elétrica da Stanford University, em recente palestra à comunidade acadêmica. A primeira gigante da alta tecnologia na região hoje conhecida como Vale do Silício foi a “Federal Telegraph and Telephone” (FTT), fundada em 1909 pelo recém-graduado de Stanford, Cyril Elwell, como a “Poulsen Wireless Telephone & Telegraph Company”. O nome tem sua razão de ser: o transmissor de arco, que, ao contrário de todos os tipos anteriores de transmissores de rádio, gerava ondas de rádio contínuas, foi inventado pelo engenheiro dinamarquês Valdemar Poulsen in 1902. Entretanto, a transferência bem sucedida da tecnologia do “arco de Poulsen” para os EUA somente foi ocorrer no verão de 1909 quando Cyril Elwell trouxe os direitos de patente americanos para a Califórnia. Por essa parte da sua história, essa região teria sido denominada a “ala do arco” (“arc alley”) antes de se tornar o “vale do silício” (“silicon valley”).

Para que o empreendimento pudesse ter fôlego para sobreviver os primeiros anos em ritmo de inovação tecnológica, foi necessário o aporte financeiro de investidores, e dentre os que investiram na FTT estava ninguém menos que o primeiro Presidente (isto é, Reitor) da Stanford University, David Starr Jordan, juntamente com William Crocker (mais conhecido como o banqueiro que ajudou a reconstrução de San Francisco após o grande terremoto de 1906). Pode-se dizer que Jordan se apresenta como o primeiro “Angel investor” do Vale do Silício. Conforme a Wikipedia, “Investidor anjo” é uma pessoa física ou uma empresa disposta a investir em empresas que estão iniciando suas atividades empresariais (startup) ou pensam em iniciar atividades comerciais ou industriais, contudo, não contam com o aporte financeiro necessário para a empreitada. Trata-se de alguém que acredita no projeto, vislumbra retorno econômico e aporta os recursos para lançar o empreendimento, e está disposto a correr riscos, enquanto aguarda ganhos financeiro com o crescimento da empresa. O fato é que ao final da Primeira Guerra Mundial, a FTT já estava fabricando transmissores de ondas contínuas de 500kW baseados em osciladores de arco de resistência negativa, tendo deixado para trás concorrentes já estabelecidos como a General Electric (GE) para ganhar o contrato de fornecimento de equipamentos estratégicos com a Marinha Americana.

O primeiro doutorado em engenharia elétrica de Stanford foi concedido a Leonard Fuller por seus avanços científicos e tecnológicos que permitiram à FTT construir esses transmissores de alta potência. O fato é que a FTT cultivou sementes intelectuais que floresceriam mais tarde, não apenas na própria região como também em outras partes do mundo. Lee de Forest (inventor americano creditado pela invenção do Audion, modelo revolucionário de válvula eletrônica) realizou seu mais importante trabalho no triodo de tubo a vácuo no âmbito da FTT, e até o futuro “pai do Vale do Silício”, Fred Terman, foi seu estagiário. O fundador da Texas Instruments, Cecil Green, também foi outro que fez parte da equipe da FTT sob o comando de Charles Litton (fundador da Litton Engineering Laboratories, e ex-aluno de Stanford que projetou e construiu o primeiro torno de emolduração de vidro, revolucionando para sempre a indústria da válvula eletrônica).

Sem surpresas, Stanford ficou em 1º lugar num recente levantamento das “Dez Melhores” comunidades de “startups” (empresas tecnológicas jovens) de universidades realizado por YouNoodle, uma firma que analisa startups. Em seguida, a relação das primeiras cinco foi completada por: MIT, a Universidade de Cambridge, a Universidade da California em Berkeley, e o Indian Institutes of Technology (Institutos Indianos de Tecnologia). Anualmente organizada no mês de Fevereiro, a “Entrepreneur Week” (Semana do Empreendedor) de Stanford, neste ano do centenário de fundação da primeira startup (FTT) ocorreu em 17 entidades distintas do campus. Uma delas, chamada de BASES — (“Business Association of Stanford Entrepreneurial Students”, Associação de Negócios dos Estudantes Empreendedores de Stanford) — foi fundada em 1996 e diz contar com mais de 5.700 membros ativos e ex-alunos envolvidos em mais de 400 startups. Como todo ano, há um prêmio para quem apresentar o melhor plano de negócios, e este ano houve 235 inscrições — mais que o dobro do número de inscrições recebidas no auge da era ponto-com.

Durante o ano escolar, há uma aula semanal com o título de “Entrepreneurial Thought Leaders” (ETL) que é organizada na Escola de Engenharia pelo Stanford Technology Ventures Program, liderado pelos professores Tom Byers e Tina Seelig, que em Janeiro último receberam o prestigioso Gordon Prize da National Academy of Engineering por seus serviços prestados no ensino da engenharia. Semana passada, a aula teve que ser deslocada para o Stanford Memorial Auditorium de forma a acomodar uma palestra intitulada “The Future of Microsoft. The Future of Technology” no dia 03/05/09 pelo CEO da Microsoft, Steve Ballmer. Dirigindo-se a uma audiência de cerca de 700 alunos e visitantes, Ballmer compartilhou seu otimismo pela inovação emergente em meio a uma crise econômica sem precedentes, revelando alguns aspectos relevantes de sua própria história como empreendedor: “Não há melhor momento para se começar um negócio, (...), se você tem uma boa idéia, vai conseguir financiamento. (...) Microsoft e Apple foram iniciadas num período recessionário.”

Outra palestra recente (08/04/09) também atraiu um grande número de alunos: o CEO e fundador da Nvidia, Jen-Hsun Huang, falou sobre a importância de uma grande visão e de se fomentar uma cultura de inovação. O incentivo à atitude de encarar riscos, segundo Huang, requer uma tolerância a falha. Para os tecnologistas do Vale do Silício, isso é quase como um princípio fundamental, mas conceitos como o valor de "falhar rápido" — para rapidamente aprender das derrotas — pode ser iluminante numa universidade de elite onde os alunos são normalmente super bem sucedidos no que fazem. Aos seus alunos a Professora Seelig sempre solicita que preparem um "résumé de falha" para ilustrar como eles deveriam aprender a partir dos erros.

Em matéria de 08/05/09 de Scott Harris no Mercury News (“Stanford's startup culture stronger than ever”), Randy Komisar, um empreendedor que se transformou em capitalista de aventura da Kleiner Perkins Caufield & Byers, co-autor do best-seller sobre a era ponto-com “The Monk and the Riddle” (Harvard Business School Press, 2000), professor de tempo parcial em Stanford e membro do conselho de diretores de uma startup chamada Cooliris, diz que ele e Byers usam um método socrático em sala de aula, constantemente questionando e encorajando o diálogo. "No Vale do Silício criamos essa cultura que é auto-perpetuante,uma cultura que atrai o tipo de pessoas que prosperam na ambigüidade, na inovação, e na tomada de riscos."

Já se disse alguma vez, com grande propriedade, que no Vale do Silício se formou um tecido social que tem produzido alguns dos mais espetaculares avanços tecnológicos da história da humanidade, e que espalhou uma infecciosa dicotomia de contracultura e empreendedorismo: criatividade, espírito libertário e não-conformismo aliados a espírito realizador e não-temeroso a falha. Que o motto de Stanford, “Die Luft der Freiheit Weht”, proposto pelo seu primeiro Presidente (i.e., Reitor) David Starr Jordan, continue a inspirar a todos de forma a garantir que os ventos da liberdade continuem soprando!

(Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

Gazeta Mercantil (São Paulo), 18/05/09, 23:30hs, http://www.gazetamercantil.com.br/GZM_News.aspx?parms=2499453,408,100,15

Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online, Recife), 18/05/09, 08:49hs, http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/artigos/2009/05/18/cem_anos_de_empreendedorismo__reitor_de_stanford_como_primeiro_anjo_investidor_46561.php


Um comentário:

  1. Sem dúvidas presenciei uma de suas palestras, que se tornou marcante para meu início de aprendizado em T.I. agradeço pela oportunidade e momento, abraços Wilderson Evangelista estudante de T.I. (faculdade Mauricio de Nassau - PE).

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