terça-feira, 6 de abril de 2010

O Recente Frenesi de Investimento em Startups de Internet

O Recente Frenesi de Investimento em Startups de Internet

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6 de abril de 2010 - Imagine empresas jovens que sequer dispõem de um modelo de negócios receberem valorações (e investimentos) de cifras milionárias por parte de investidores em capital de ventura, tudo isso num momento em que as economias americana e mundial ainda se encontram em estado de recuperação de uma crise financeira de grandes proporções. Pois bem, com apenas 4 meses de fundação, Blippy foi recentemente valorada em US$38 milhões. Quora, considerada ainda em estágio beta, está valorada em cerca de US$86 milhões. Da sua parte, Foursquare, fundada em Março de 2009, sairá das negociações em curso com uma valoração da ordem de US$80 milhões ou mais, prevêem os analistas. Além de extremamente jovens, todas essas três empresas de internet carecem de qualquer arrecadação de receita. Convenhamos, doze meses atrás valorações como essas seriam inimagináveis.

Levando em conta que o mercado de IPO (oferta pública inicial) ainda se encontra praticamente fechado para startups, e que a maioria das aquisições permanece na casa das dezenas de milhões de dólares, o que sugere a inexistência de saída lucrativa para os capitalistas de ventura (os chamados “VC’s”) que investem no nível dessas valorações, Michael Arrington (editor do blog TechCrunch) reuniu nada menos que três “reis” da indústria do capital de ventura do Vale do Silício (“Top VCs Debate Rising Startup Valuations”, 04/04/2010) para buscar entender o que está por trás desse recente frenesi de investimentos em startups: Marc Andreessen (pioneiro dos navegadores da internet, incluindo Mosaic e Netscape), Ron Conway (considerado por muitos o mais prolífico e bem sucedido investidor anjo do Vale do Silício), e David Hornik (empreendedor e investidor em diversas startups de sucesso, incluindo Blippy), todos pareciam mais preocupados com fechar um desses negócios “quentes” do que com o espantoso crescimento das valorações. Conway ainda comenta que as valorações supracitadas podem dar a impressão de que se perdeu o controle, mas que é preciso olhar cada um dos três casos com a devida diligência.

Fundada em Dezembro de 2009 por Ashvin Kumar, Chris Estreich e Philip J. Kaplan, apoiada num financiamento de US$1,6 milhão vindo de diversas empresas proeminentes de capital de ventura incluindo Charles River Ventures e Sequoia Capital, assim como de investidores-anjo do calibre de Evan Williams (co-fundador da Twitter) e Jason Calacanis, a Blippy serve ao propósito de compartilhamento de informações sobre compra de bens e serviços, tudo isso com vistas a facilitar a discussão e a comparação sobre compras entre usuários que estejam conectados online. Por essa razão é considerada a “Twitter das finanças pessoais”.

Segundo Conway, a FourSquare, que propicia um serviço de compartilhamento de localização em tempo real, pode vir a ser a nova Twitter dos serviços de localização. Com apenas 12 meses desde sua fundação, a FourSquare já serve a uma comunidade de usuários que ultrapassa a casa dos 500 mil membros de todo o mundo.

Considerada uma das startups mais “quentes” do Vale do Silício no momento, Quora teve sua primeira versão beta privada lançada em Janeiro de 2010. Fundada por Adam D’Angelo e Charlie Cheever, ambos ex-funcionários da Facebook, Quora se apresenta como “uma coleção de perguntas e respostas sendo continuamente melhorada cuja criação, edição e organização fica por conta de quem utiliza o serviço.” E continua: “A coisa mais importante é fazer com que cada página de pergunta se torne o melhor recurso possível para alguém que deseja saber sobre a pergunta.”

Em tom de surpresa com o volume de dinheiro sendo investido em startups que mal nasceram, Arrington indaga aos seus entrevistados o que os faria se interessar por empresas tão jovens e tão altamente valoradas, caso estivessem diretamente envolvidos na negociação. Conway simplifica dizendo que trata-se de uma transformação de um mercado “para vendedores” em um mercado “para compradores” para a empresa ou idéia certa. Em sua intervenção, Hornik demonstra compartilhar do sentimento de surpresa lembrando a escassez de dinheiro no mercado, e concluindo que, nessas condições, deveríamos estar presenciando um mercado “para compradores”.

Andreessen prefere argumentar que, em geral, a teoria é a de que há um pequeno número de empresas que têm o potencial de se tornarem verdadeiramente importantes. Essas seriam aquelas empresas que são iniciadas por seus próprios fundadores que têm a capacidade de construir empresas grandes, importantes e bem sucedidas. Segundo um estudo realizado por Andrew Rachleff, da Stanford Business School, a cada ano o setor de tecnologia cria por volta de 15 empresas que, no final das contas, vão acabar produzindo uma receita de US$100 milhões anuais ou mais, e são essas empresas que se tornam as grandes empresas de franquia tais como as Googles, as Salesforces, as Facebooks, etc. Essas se tornam o evento verdadeiramente importante. Segundo Andreessen, muitos investidores no Vale do Silício deixaram de investir na Google no seu início devido à sua valoração ainda como startup, mas que hoje se lamentam por terem deixado a oportunidade passar. Algo semelhante ocorreu com a Facebook.

Como fruto de sua enorme experiência, e faro aguçado que o fez acreditar na Google quando Larry Page e Sergey Brin não tinham sequer um plano de negócios, Conway insiste na importância da boa diligência quando se está diante de um caso de uma alta valoração sendo atribuída a uma startup: ao investidor que competiu pela participação no investimento e venceu fica o sentimento de que aquela será uma das 15 empresas que vai produzir uma receita na casa dos US$100 milhões.

Sábias palavras, sobretudo quando vindas de quem é descrito como “o homem que mais apostou em startups de internet do que qualquer outra pessoa no Vale do Silício”, e é tema de livro na área (“The Godfather of Silicon Valley: Ron Conway and the Fall of the Dot-coms”, AtRandom, 2001).

Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

Investimentos e Notícias (São Paulo), 06/03/2010, 00:41hs, http://www.investimentosenoticias.com.br/ultimas-noticias/artigos-especiais/o-recente-frenesi-de-investimento-em-startups-de-internet.html

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