sábado, 14 de fevereiro de 2009

A libertária Björk e o capital de aventura

A libertária Björk e o capital de aventura

Ruy José Guerra B. de Queiroz // Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

Emblemático o caso da cantora pop islandesa Björk que recentemente cedeu seu nome e imagem (e algo do seu próprio patrimônio) à indústria do "venture capital" (que poderia ser traduzido como "capital de aventura", mas que já tem sua denominação em português como "capital empreendedor", ou "capital de risco"): um fundo de capital empreendedor com seu nome foi lançado no final de 2008 pela Audur Capital, uma empresa de Reykjavik fundada por mulheres, e que concentra suas atenções em empresas criadas por mulheres ou voltadas para uma clientela do sexo feminino. O fundo Björk foi idealizado com o objetivo de catalisar a recuperação da economia da Islândia, conforme o portal da Audur. A empresa vai investir 100 milhões de kronur (US$832 mil) em negócios social e ambientalmente responsáveis que estejam na sua fase inicial, e que promovam a paisagem e a cultura únicas da Islândia. O curioso é que Björk tem uma imagem de libertária e de ativista política, além de ferrenha ambientalista. Esteve envolvida em controvérsia por diversas ocasiões, entre elas a dedicatória da música "Declare Independence" à Groenlândia e às Ilhas Faroe, assim como aos povos do Kosovo e do Tibet. "Nattura," uma música que ela gravou com Thom Yorke (da banda Radiohead) foi lançada no iTunes em prol da ONG ambientalista de mesmo nome. Agora ela quer que a Islândia - um país à beira da bancarrota - promova empreendimentos "verdes" ao invés de extração de alumínio e fábricas.

Não chega a ser um exagero associar o espírito "libertário" ao capital de aventura: trata-se de capital tipicamente destinado a empresas novas com alto potencial de crescimento, com o objetivo de gerar retorno ao investidor através essencialmente de dois caminhos, seja pela venda a uma empresa maior ("merger and acquisition", M&A) ou pela transformação em sociedade aberta e o consequente oferecimento de ações na bolsa ("initial public offering", IPO). O investimento é geralmente feito sob forma de dinheiro em troca de participação na sociedade da empresa, e o capital tipicamente provém de investidores institucionais (Universidades através de seus "endowments", e Fundações para inovação) e de grupos de indivíduos coordenados por firmas de investimento. Espera-se que o capitalista de aventura (conhecido como "VC", abrev. de "venture capitalist") traga, além do dinheiro, expertise técnica e gerencial, até porque esse tipo de capital é mais interessante para novas empresas com uma história curta de operações, e que por essa razão têm dificuldade em levantar capital nos mercados públicos e são demasiado imaturas para obter empréstimo bancário ou completar uma oferta de débito. Em troca pelo alto risco que os VCs assumem ao investir em empresas menores e menos maduras, normalmente transfere-se ao VC boa dose de responsabilidade sobre as decisões executivas da empresa financiada, além de uma parte na sociedade. Curiosamente, 75% dos casos de sucesso do capital de aventura estão dentro de umraio de 40Km em torno de uma universidade cujo motto é "Os Ventos da Liberdade Estão Soprando" (em alemão: "Die Luft der Freiheit Weht"): cravada no faroeste aventureiro, e vizinha à lendária Sand Hill Road, endereço-mor do capital de aventura, Stanford é o eixo da inovação tecnológica, desde os anos 1970s graças à política de estímulo à criação de "empresa montada numa garagem, para explorar uma ideia maluca utilizando tecnologia". Desde a pioneira Hewlett-Packard até a toda-poderosa Google, passando por Yahoo, Cisco e YouTube, formou-se ali um poderoso ecossistema de ideias, empreendedorismo, e investimento de capital de aventura. Que os ventos continuem soprando!

Diário de Pernambuco, 14/02/2008, http://www.diariodepernambuco.com.br/2009/02/14/opiniao.asp

Portal do IBDI, 16/02/2009, http://www.ibdi.org.br/site/artigos.php?id=215

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