quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Anjos da Inovação e o Tempo Real

ARTIGOS ESPECIAIS
25/02 - 19:20
Anjos da Inovação e o Tempo Real

São Paulo, 25 de fevereiro de 2009 - Num momento em que muitos demonstram desânimo e pessimismo até mesmo com a capacidade transformadora da inovação tecnológica, eis que aparece a voz de um anjo: a entrevista de Marc Andreessen a Charlie Rose em 19/02/09 soa como o anúncio de uma nova era, a era da comunicação em tempo real. O entrevistado é ninguém menos que o autor dos primeiros navegadores da internet, desde o Mosaic que deu origem ao Internet Explorer até o Netscape que evoluiu para o Firefox, e hoje um dos mais bem sucedidos empreendedores do Vale do Silício: fundador de duas empresas bilionárias (a Netscape foi adquirida em 1999 pelo grupo AOL por US$4,2 bi, e em 2004 a Opsware foi vendida à Hewlett-Packard por US$1,6 bi), Andreessen declarou-se “investidor anjo” no Twitter, serviço de comunicação em tempo real pela internet. Entre outras declarações de confiança e visão inovadora, típicas do empreendedor do Vale do Silício, Andreessen afirma que a bola da vez é a comunicação móvel: com aparelhos supersofisticados, desenvolvedores de aplicações, conteúdo, e um catalisador fundamental que é o iPhone, tudo aponta para uma grande efusão de soluções inovadoras que ainda está por vir. O paralelo com a internet é imediato: apesar de ter sido inventada nos anos 1970’s, somente em 1994/95 com o surgimento dos navegadores a infraestrutura veio de fato servir ao grande boom de inovação experimentado até hoje. E eis que surgem as redes sociais, Facebook, Twitter e a web de tempo real. E isso é apenas o começo. À sugestão de Rose “se você puder conectar todo mundo, então está aí uma enorme oportunidade para fazer um monte de coisas”, Andreessen responde que se é possível levar 50, 100, ou 100 milhões de pessoas a fazer algo (como, por exemplo, se tornar membro de uma rede social), você vai conseguir que todo mundo o faça também. O potencial é enorme. Ainda mais quando se ouve do “pai” da internet, Vint Cerf, que somente 20% do mundo está conectado via web.

Em retrospecto, os navegadores nos trouxeram um mundo de páginas web, inicialmente produzidas por indivíduos, depois por pequenos e grandes negócios, e finalmente, vieram os blogs, transformando qualquer um em autor. Em “Andreessen in realtime” (TechCrunchIT, 21/02/09), Steve Gillmor lembra que a luta era com o tempo e a localização, e aí veio a indexação RSS e os engenhos de busca para nos ajudar. Mas o tempo desde a idéia até a publicação e o consumo do que é escrito tem se aproximado ao tempo real. Os dispositivos assumem o comando, alargando a quantidade de tempo para consumir o fluxo quase impossível de acompanhar. O Blackberry expandiu o horário de trabalho para todas as horas. O iPhone removeu a distinção entre trabalho e diversão. O Twitter juntou o privado e o público num único fluxo de atualizações. O Facebook embaçou as distinções entre amizades reais e virtuais. Os números estão crescendo — 175 milhões de usuários no Facebook, dezenas de milhares de seguidores no Twitter, constante troca de texto e conversações em vídeo entre os adolescentes — uma economia semi-secreta de mídia interativa que está aos poucos roubando a cena do setor tradicional de “broadcast”.

Segundo a Wikipedia, um investidor anjo, ou simplesmente anjo (conhecido na Europa como anjo de negócios ou investidor informal) é um indivíduo abastado que investe capital numa “start-up” (empresa jovem de inovação tecnológica), normalmente em troca de uma participação na sociedade ou de débitos conversíveis. Diferentemente dos capitalistas de aventura (“venture capitalists”) que gerenciam fundos provenientes de instituições e indivíduos reunidos em grupos, anjos tipicamente investem seus próprios fundos, e são frequentemente empreendedores ou executivos aposentados, que às vezes são guiados por razões que vão além do mero retorno monetário: servir de mentor a uma nova geração de empreendedores, e ao mesmo tempo manter-se ocupado fazendo uso de sua experiência mas sem o envolvimento em tempo integral. Além do capital, anjos normalmente agregam experiência gerencial e um importante círculo de contatos. O termo "anjo" tem origem na Inglaterra onde era usado para descrever indivíduos abastados que financiavam produções teatrais. Somente em 1978, William Wetzel, na época um professor na Universidade de New Hampshire e fundador do “Center for Venture Research”, realizou um trabalho pioneiro sobre como empreendedores levantam capital semente nos EUA, e começou a usar o termo “anjo” para se referir aos investidores desse tipo de capital. Pois, foi graças ao investimento inicial crítico de US$250 mil do anjo Mike Markkula em 1977, que a Apple de Steve Jobs e Steve Wozniak chegou a um mercado dominado pela gigantesca IBM. Markkula trouxe credibilidade, maturidade, experiência em engenharia e gerência de produtos, e um largo círculo de contatos no mundo dos negócios, assim como dinheiro próprio e de seus contatos entre os capitalistas de aventura do Vale do Silício. Hoje a Apple é sinônimo de inovação e criatividade, e tem sua imagem e seus produtos adjetivados tal qual o Taj Mahal, uma das sete maravilhas do mundo (“Intenso. Profundo. Simetria. Dedicação. Paixão. Amor. Humilhante. Perfeição”, no artigo de Om Malik “What the Taj Mahal and Apple have in common” publicado no portal GigaOm em 19/02/09). Tudo isso em boa medida devido ao carisma e ao dinamismo de Steve Jobs, que foi recentemente recomendado ao Presidente Obama pelo empreendedor Todd Dagres (fundador da Akamai Technologies e da Spark Capital) como salvador da indústria automobilística (“Letter to Obama: What the Car Industry Needs is a Steve Jobs”, 23/02/09, TechCrunch). Como diz Peggy Noonan no artigo “Remembering the Dawn of the Age of Abundance” de 20/02/09 no Wall Street Journal, o dinamismo tem vazado de nossa economia, mas não do cérebro e coração humanos. Tal qual nossa regeneração política acontecerá localmente, em estados e municípios que aprenderem a manter o controle e demonstrarem como governar eficazmente num tempo cheio de limites, assim será com a regeneração econômica. Isso vai começar na garagem de alguém, na cozinha de alguém, como foi o caso de Steve Jobs e Steve Wozniak. Parece que ninguém confia mais no grande. No futuro tudo será local. Aí estará a mágica. E nenhum pessimismo vai parar isso, uma vez que dê a partida.

(Ruy J.G.B. de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

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