terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Otimismo e o Capital de Aventura

Otimismo e o Capital de Aventura

Ruy de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE

Combustível da inovação tecnológica, o “venture capital” (traduzido para “capital empreendedor” ou “capital de risco”, ou “capital de aventura”), é destinado a empresa nova (“startup”, empresa jovem de inovação tecnológica) com grande potencial de crescimento, com a expectativa de gerar retorno ao investidor através de dois eventos: a venda a uma empresa maior (“merger and acquisition,” M&A) ou a transformação em sociedade aberta e o conseqüente oferecimento de ações na bolsa de valores (“initial public offering,” IPO). O investimento é feito sob forma de dinheiro em troca de participação na sociedade, e o capital tipicamente provém de investidores institucionais (Universidades através de seus “endowments”, e Fundações para inovação) e de grupos de indivíduos coordenados por empresas de investimento. Espera-se que o capitalista de aventura (“venture capitalist”, “VC”) traga, além do dinheiro, expertise técnica e gerencial, até porque esse tipo de capital é voltado para startup’s, que, por serem novas têm dificuldade em levantar capital nos mercados públicos e são muito imaturas para captar empréstimo bancário ou completar uma oferta de débito. Em troca pelo alto risco, normalmente transfere-se ao VC boa dose de responsabilidade sobre as decisões executivas da empresa financiada. De acordo com um estudo de 2007 da Global Insight, empresas financiadas com capital de aventura foram responsáveis por 10,4 milhões de empregos e US$2,3 tri em receita nos EUA em 2006. Alguns dos ícones que sobreviveram graças a esse investimento:  Intel, Apple, Amazon, Google.  Empresas financiadas por capital de aventura empregam mais de 11 milhões de americanos, e representam 18% do PIB do país.

Capitalistas de aventura investem em empresas pelo seu potencial, mas normalmente têm que aguardar até que a startup seja objeto de uma compra por uma empresa maior, i.e. ocorra um M&A, ou que aconteça um IPO, portanto, são tipicamente investidores otimistas – é preciso coragem para lidar com ativos de tão alto risco e de tão baixa liquidez. No auge do boom da web (1999 a 2001) foram investidos mais de US$70 bi só em empresas de internet. Porém, nesses tempos de crise de confiança nos mercados financeiros, o otimismo está ferido: numa pesquisa recente (final de 2008) realizada pela National Venture Capital Association, que representa cerca de 450 investidoras, 92% dos VCs prevêem uma desaceleração nos investimentos de capital de aventura em 2009 em relação a 2008, e espera-se que o total de investimentos chegue a US$30 bi. Alguns setores podem ainda ver seus investimentos crescerem (energia limpa, ciências da vida), porém outros deverão perder: 79% acreditam que haverá um declínio nos investimentos na indústria de semicondutores; 71% prevêem perda de investimentos no setor de mídia e entretenimento; e 60% dizem que haverá menos investimentos em comunicações sem fio. Cerca de 72% dos VCs acreditam que o mercado de IPO será fraco em 2009, enquanto que 87% dizem que o valor das aquisições em M&A vai diminuir.

Enfim, ao final de 2008, o capital de aventura tinha sido dado como morto, praticamente todas as startup’s tinham realizado demissões, e as fontes tradicionais haviam sangrado tanto que mesmo os mais confiantes em “ativos alternativos” haviam declarado uma moratória para o capital de aventura. O mercado de IPO então, nem se fala. Eis que surge um otimista. Em um artigo em seu blog, David Hornik (“Innovation doesn’t take a vacation in an economic downturn”, Venture Blog, 21/01/08) vê uma luz no fim do túnel nesse início de 2009, e prevê que grandes empreendimentos surgirão da própria crise. Isso porque o empreender é um vício, não uma escolha, e porque inovação não tira férias durante uma depressão econômica. Se o acesso a recursos pode variar com o clima econômico, o desejo – a necessidade – de inovar nunca se esvai. E o capital de aventura é exatamente o combustível dessa inovação.


Jornal do Commercio (Recife), 17/02/2009, http://jc.uol.com.br/jornal/2009/02/17/not_319862.php

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