segunda-feira, 27 de abril de 2009

O Crescimento Áureo da Tecnologia da Informação e as Novas Oportunidades

ARTIGOS ESPECIAIS

27/04 - 09:25

O Crescimento Áureo da Tecnologia da Informação e as Novas Oportunidades

São Paulo, 27 de abril de 2009 - Quando se fala em sociedade da informação é comum se restringir a discussão aos aspectos sociais, culturais, e até mesmo tecnológicos da chamada revolução da informação. Pouco se menciona um aspecto fundamental: essa revolução tecnológica conduziu um mercado de 1980 a 2000 que cresceu a uma taxa anual de 17%. Foram 20 anos consecutivos com um crescimento dessa ordem de magnitude. Um mercado que saiu praticamente do nada para um patamar de mais de um trilhão de dólares. Como disse Thomas Siebel numa palestra recente (“Emerging Opportunities in a Post IT Marketplace”, 11/02/09) no Stanford Entrepreneurship Program, “faça uma busca na Wikipedia e não encontrará muitos mercados que tenham crescido tanto por tanto tempo”. Fundamental para se chegar a esse ponto foi sem dúvida a “lei de Moore” (enunciada em 1965 por Gordon Moore, co-fundador da Intel, descreve uma tendência de longo-prazo na história do harware dos computadores: “o número de transistores que podem ser colocados a custo razoável num circuito integrado aumenta exponencialmente, duplicando aproximadamente a cada dois anos”). É claro que não foi obra do acaso. Naquele periodo vigoravam nos EUA políticas públicas extremamente favoráveis a investimentos de risco. “Risco era um problema dos negócios, não um anátema”, acrescenta Sieber. Resultado: incentivo à inovação, empreendedorismo, conceitos amplos tais como propriedade do empregado de base ampla, e um ambiente regulatório largamente favorável aos negócios. Isso tudo num período de evolução e fortalecimento do mercado de capitais, notadamente o capital privado sob a forma de capital empreendedor (ou capital de aventura), resultando num fluxo de capital para inovação incrivelmente fluido. No contexto global, a abundância parecia ser o nome do jogo.

Como se não bastasse tudo isso, mudanças em tecnologia provocavam substituições totais, ao invés de incrementais, o que significava que todo cliente tinha que comprar e continuar comprando ou ficar para trás na obsolescência. A revolução na indústria da tecnologia da informação e da comunicação contava fortemente com um poderoso mecanismo de auto-alimentação: a inovação apoiada na lei de Moore. Siebel, que foi partícipe desse período (e desse ponto geográfico) áureo da economia americana, é atualmente chairman do “First Virtual Group”, uma holding de empresas diversificada com interesses no mercado imobiliário comercial, agronegócios, gerenciamento de investimentos globais, e filantropia. Recipiente de diversos prêmios como empreendedor (por exemplo, “Master Entrepreneur of the Year – Ernst & Young, 2003”), autor de três livros (entre eles “Taking Care of eBusiness “, Doubleday, 2001), Siebel foi fundador, chairman e CEO da Siebel Systems que acabou adquirida pela Oracle Corporation em Janeiro de 2006. Fundada in 1993, a Siebel Systems se tornou líder mundial em software de aplicações com mais de 8.000 funcionários em 32 países, mais de 4.500 clientes corporativos, e uma receita anual de mais de US$2 bilhões. Segundo Siebel, quando se esteve envolvido em qualquer desses tipos de revolução e se convocava um cliente, a questão não era se ele ia comprar o produto, pois ele poderia até pensar que não ia comprar mas você sabia que ele ia comprar, pois era somente uma questão de se ia ser esse ano ou dentro de dois anos. E eles iam comprar, pois caso contrário poderiam quebrar, pois ficariam não-competitivos. Foram anos dourados, até que veio o estouro da bolha em 2001.

A revolução da informação de fato mudou a forma como as pessoas se comunicam, a maneira como fazem negócios, como se divertem, e até como conduzem os processos de negócios. Houve enormes ganhos de produtividade em todos os segmentos industriais, mas, segundo Siebler, há sinais de que o ritmo não é mais o mesmo: basta tomar como indicador a taxa de investimento de aventura em tecnologia da informação, que cresceu extremamente rápido até o estouro da bolha, mas tem caído cerca de 1% ao ano. Numa matéria recente no NY Times (“Venture Capital Investment Sinks”, 18/04/09), Claire Cain Miller relata que o investimento em capital de aventura no primeiro trimestre de 2009 caiu para níveis tão baixos quanto não se via desde a época anterior o estouro da bolha das ponto-com, conforme um estudo publicado pela Thomson Reuters. As empresas de capital de aventura investiram apenas US$3 bilhões em 549 empresas jovens no primeiro trimestre, o menor nível de investimento desde 1997, conforme um estudo realizado pela National Venture Capital Association e a PricewaterhouseCoopers. O montante investido caiu 47% com relação ao último trimestre de 2008 e 61% com relação ao primeiro trimestre do ano passado. Empresas de software receberam US$614 milhões, uma queda de 42% em relação ao trimestre anterior. Por sua vez, as empresas de internet levantaram US$556 milhões, um decréscimo de 31%. Em destaque, os negócios com a Obopay, um serviço de pagamento por celular, e a Twitter, cada uma captando US$35 milhões.

Segundo Siebel, hoje em dia a indústria da tecnologia da informação não apresenta os maiores desafios nem as grandes oportunidades. Voltamos ao básico: água, saúde, energia, alimentação. Se olharmos para o crescimento da população mundial: estamos em 6,5 bilhões caminhando rapidamente para 9 bilhões, e não adianta achar que vamos diminuir esse ritmo com controle populacional. E isso significa demanda sobre o meio-ambiente. Se você deseja construir uma nova fábrica, uma nova unidade fabril, uma nova estrada, fabricar um novo produto, vai precisar levar em conta o conteúdo de dióxido de carbono correspondente. Por isso, as previsões para o chamado “mercado do carbono” que hoje está em US$3 bilhões apontam para US$3 trilhões em 2020 como resultado da legislação que deve entrar em vigor nos EUA. Essa é uma espécie de lei de Moore de nossas vidas. Dito isso, Siebel conclui especulando que as grandes oportunidades de se fazer algo significativo estarão seguramente relacionadas a assistência à saúde, à produção limpa e eficiente de energia, à produção de alimentos, à preservação da água.

Não obstante a pertinência das observações de Siebel, é preciso levar em conta que os avanços na tecnologia da informação não raro repercutem profunda e decisivamente em todos os setores promissores identificados.

(Ruy José Guerra Barretto de Queiroz, Professor Associado, Centro de Informática da UFPE)

Gazeta Mercantil, 27/04/2009, 09:25hs, http://gazetamercantil.com.br/GZM_News.aspx?parms=2461523,408,100,1


2 comentários:

  1. Ruy, muito bons os artigos. Este último, entretanto, me causou um questionamento (como cientista da computação). Concordo que os avanços da TI nos últimos anos repercutem nos setores promissores identificados, mas existe espaço para nós de realizar algo significante nestas áreas (de hoje em diante)?

    Quero dizer, me parece que estamos entrando numa era em que o engenheiro - ambiental, elétrico, químico - é o profissional que vai realmente solucionar os grandes problemas, ao menos nas áreas crucias citadas. Você vê espaço para o cientista/engenheiro da computação empreender nestas áreas ou nós estaremos restritos a realizar tarefas menores nos próximos anos?

    Fernando

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  2. Obrigado pelo comentário Fernando! Muito apropriado!
    Vislumbro sim muito espaço para o cientista/engenheiro da computação. Lembre-se que quando os "Google boys" saíram à procura de quem desejasse comprar a tecnologia de busca que desenvolveram, todos diziam "não há nada novo em busca, por isso não estamos interessados". E aí resolveram fundar a empresa, e deu no que deu...

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